segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Belém em dia de domingo...






Fotos: "Mormaço", Ariana da Silva

domingo, 19 de dezembro de 2010

ANTROPOLOGIA (BIOLÓGICA)


A Antropologia Biológica corresponde a uma especialização ou aplicação da antropologia ao estudo do comportamento humano para obtenção e manutenção da saúde através de práticas culturais. Naturalmente, trata-se de uma divisão com fins didáticos pois não há como isolar um “fato” social do seu contexto ou realidade construída pelas sociedades humanas com sua linguagem e cultura característica.
Tal ciência aplicada pode ser melhor compreendida tanto pela análise da produção de trabalhos produzidos por antropólogos e demais cientistas sociais como pela especificidades da área de aplicação e suas interfaces com demais ramos do conhecimento.
Para François Laplantine, o autor de Antropologia da doença, esta ciência estuda a percepção e resposta de um grupo social à patologia, elabora e analisa modelos etiológicos e terapêuticos. Um modelo é: uma construção teórica, caráter operatório (hipótese) e também uma construção metacultural, ou seja, que visa fazer surgir e analisar as formas elementares da doença e da cura - sua estrutura seus invariantes tornando-o comparável a outros sistemas (Laplantine).
Um século de contribuições
Assim como a própria antropologia, tais estudos se iniciaram com as descrições etnográficas do século XIX, assim temos descrições do xamanismo, e das “medicinas tradicionais” e “medicinas populares” entre as proposições teóricas do começo do século XX destacamos as contribuições de Marcel Mauss (1872 – 1950) em especial a criação da noção de técnica do corpo, entendendo o corpo humano como o primeiro e mais natural instrumento do homem nos permitindo comparar as intervenções obstétricas, cuidados de puericultura, higiene, sexualidade etc. e as distinções que faz entre magia, religião situando a prática dos curandeiros, analisando o poder dos enfeitiçamentos e crenças incluindo as célebres descrições de “morte sugerida” ou induzida por feitiçaria na Austrália e Nova Zelândia fenômeno psicossomático posteriormente estudado pelo fisiologista Cannon W. B. (1942) nas suas descrições da relação cérebro - emoção.
As práticas mágicas e simpatias em seus aspectos sociais e psicológicos estão entre os objetos de estudo de Mauss, que mais produziram ecos e até hoje permanecem na lista de interesses do antropólogo voltado para as questões do processo saúde – doença, repleto de excelentes descrições obras clássicas com “Bruxarias, Oráculos e Magia entre os Azande” de E. E. Evans-Pritchard com sua cuidadosa descrição da farmacopéia mágica e outras características religioso-étnicas desses povos da África Central ou “Pensamento Selvagem” de Claude Levi-Strauss, que nos propõe um caminho da compreensão do pensamento mágico e mitologia a partir da comparação das “operações” deste com o pensamento científico delimitando suas relações com a intuição sensível, predominante nas analogias do primeiro, e com a percepção – observação na lógica do pensamento científico.
Também é objeto da antropologia médica o modo como se formam os distintos agentes de cura, o modo como estes modificam a realidade institucional/ cultural em distintos países e organizações sócio-econômicas e o modo como se produzem e distribuem (consomem) ações e serviços de saúde, aliás a OMS, Organização Mundial de Saúde, tem estimulado desde sua fundação a associação das medicinas tradicionais à prestação de serviços primários de saúde a exemplo da bem sucedida criação dos médicos de pés descalços na China.
Antropologia da Sáude no Brasil
Pesquisas sobre as contribuições da antropologia à Medicina, Fisioterapia, Psicologia / Psicanálise, Enfermagem, Odontologia e outras áreas da saúde em estudos específicos sobre essa produção em periódicos e congressos científicos nos revelam que o Brasil, centenas de estudos exploram as relações entre saúde, doença e cura na religiosidade popular, nos sistemas etnomédicos indígenas e religiões - medicinas de matriz africana (candomblés e práticas médico religiosas de afro-descendentes) versam sobre representações do corpo e cuidados corporais, categorias de alimentação, condições de vida da classe trabalhadora, saúde mental e mesmo sobre as práticas médicas alternativas ou complementares.
Os estudos mais antigos tentam relacionar as práticas populares (folclore) às tradições formadoras de nossa cultura, analisando inicialmente segmentos étnicos e a cultura no meio rural e os estudos mais recentes, voltam-se para o meio urbano e as distintas classes sociais que caracterizam os conflitos da sociedade capitalista em transformação. As pesquisas mais recentes tendem a integrar as teorias que dão conta dos dados etnográficos (o particular) ao processo socioeconômico e cultural mais amplo (o geral).

Fonte: "http://pt.wikipedia.org/wiki/Antropologia_da_sa%C3%BAde"
Fotos: Ariana da Silva - Ilha de Cotijuba - Belém do Pará

sábado, 4 de dezembro de 2010

Na ilharga de Belém...








Na Fundação Curro Velho (pôr do sol); Barquinho (UFPA/Vadião); Barco (UFPA/Vadião); Trapiche do Mangal das Garças visto do Mormaço; Ver-o-Peso; Canhão Forte do Castelo.
Fotos de Ariana da Silva

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

sábado, 20 de novembro de 2010

"Meu "quilombo" tá lindo como o quêêê??"



O Dia da Consciência Negra é um momento de reflexão.
De exigir direitos históricos.
De reclamar dívidas inquestionáveis e quase irreparáveis.
De construir identidades étnicas, sociais e intelectuais.
Zumbi, Mandela, Franz Fanon, Zélia...
Ilustres que disseram não aos processos de dominação colonial européia e que nós tentamos diuturnamente compreender os seus legados de resistência contra as relações de poder até hoje impostas pela desigualdade e exclusão social em que negros e negras, mulheres e homens, que edificam a história do país, na maioria das vezes, continuam em situação social degradante, mas que, através dos movimentos sociais de construto étnico, fazem-se ouvir nos quatro cantos do Brasil.
Na comunidade de Itacuã-Miri, no Município do Acará (Pa), Agosto (2010), o rito: "Meu quilombo tá lindo como o quê?", cantado ao som de atabaques, com as saias rodadas no salão de festas de um Encontro de Mulheres Negras que delimitavam a sua história política de inclusão social, ressoa na minha lembrança como uma bela canção de pessoas que estão em busca de inclusão de fato (étnica, social, legal, jurídica, etc.), de melhorias, de participação social, de liberdade de expressão política e religiosa (que, no mito da democracia "racial", aparentemente existe) e, especialmente, lutam pelo reconhecimento do Estado e que ainda hoje configuram o limiar entre o passado e o presente histórico da sociedade brasileira.
Lembrar do Dia da Consciência Negra é uma forma de reafirmar o processo de resistência social e de identidade étnica em processo de construção, uma atitude política que precisa ser diariamente debatida para que as relações humanas e sociais sejam realmente democratizadas, de fato e de direito.

Texto e Fotos (Itacuã-Miri): Ariana da Silva

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O Culturalismo



Baseado na teoria social de Franz Boas, o Culturalismo constitui os ensinamentos da Antropologia Norte-Americana a partir das décadas de 20/30 e que está associado ao chamado particularismo histórico, tendo como argumento a caracterização das culturas humanas através de processos e elementos históricos específicos, baseado nas condições ambientais, que podem criar ou modificar elementos culturais diferenciados, no esclarecimento dos fatores psicológicos que atuaram na configuração da cultura, assim como busca mostrar os efeitos que as conexões históricas tiveram sobre o desenvolvimento da cultura de cada comunidade, aldeia ou povo estudado, rejeitando sobremaneira o método comparativo em antropologia social, criticado como generalista e de limitação científica.
O Culturalismo de Boas marcou o desenvolvimento de uma investigação histórica precisa, com o estudo criterioso, lento e cuidadoso de fenômenos locais e que pretendia através do detalhamento histórico proceder, em cada área estudada, a busca de evidências culturais com o intuito, entre outros, de reconstruir a história do desenvolvimento das idéias de cada cultura, estabelecendo, desse modo, a conexão histórica e de singularidades entre as populações humanas a fim de constituir o estabelecimento de leis gerais tendo como indicador a história real como base de suas deduções.
O método de abordagem do Culturalismo está baseado no estudo das mudanças dinâmicas na sociedade observada no tempo presente e na habilidade para dar conta dos processos que levam ao desenvolvimento de certos costumes em áreas geográficas pequenas como também no interesse de esclarecer as complexas relações de cada cultura individual. Boas analisou a psicanálise freudiana como um aspecto importante da compreensão emocional da vida social, porém reforçou a tese de que as impressões da infância, do comportamento social do homem em seus primeiros hábitos nem sempre estão conectados por atitudes que se estabeleceram antes da memória começar a operar e o fenômeno da linguagem é um exemplo que diferencia a idéia de Freud, porque os conceitos gerais sobre ela ainda são desconhecidos em sua totalidade e que não remetem necessariamente ao estágio de consciência até que se comece o estudo sistemático da gramática e dos processos lingüísticos, porém acredita que a teoria da psicanálise ajudou na compreensão de fenômenos simbólicos em interpretações subjetivas das culturas humanas em suas particularidades.
Nesse contexto, a classificação do Culturalismo como um ramo da Antropologia Social é importante no sentido de desenvolver estudos que caracterizam “processos” pelos quais estágios culturais ocorreram, não apenas analisando os costumes, crenças, rituais e lendas em si mesmos, mas procurando dar conta sobre as razões pelas quais os fenômenos culturais existem, para, finalmente, descobrir a história de seus desenvolvimentos e de suas variações, esforçando-se também para encontrar as causas psicológicas comuns subjacentes a todos esses processos socioculturais, que são eminentemente históricos.
O Culturalismo oferece uma dura crítica ao Método Comparativo, que conceitua como um estudo falho, baseado na “evolução uniforme” da cultura humana e que, na ótica de Boas, indica certo desprezo às singularidades históricas e de suas respectivas particularidades. O autor relata que a história humana não deve ser generalizada, pois acredita ser improvável que a mente humana obedeça às mesmas leis em todos os lugares e que idéias universais se constituem em um problema de método, citando, entre outros, que o Totemismo ou a Arte Primitiva constituem-se por fenômenos similares e étnicos que provavelmente se desenvolveram a partir de diferentes fontes.
Os estudos que deram base ao Culturalismo tem relevância em suas análises históricas por apresentarem em suas abordagens diversas fontes de conhecimento, caracterizando o pensamento antropológico do início do Século XX e que continua a influenciar muitos pesquisadores até os dias de hoje. Estudos sistemáticos sobre raça, tipos humanos, imigração, etnologia, cultura, integração social e sociedades antigas são apenas alguns exemplos de sua praticidade na elaboração de explicação da realidade social que nos cerca, tendo como norte o detalhamento de costumes em suas relações com a cultura local e total da comunidade estudada, especialmente no que se refere aos aspectos históricos propriamente ditos, assim como em análises psicológicas dos diversos processos simbólicos que circundam as culturas em questão.
A importância fundamental do Culturalismo para o pensamento antropológico consiste na elaboração de um método que tem como eixo central a caracterização dos aspectos históricos das culturas humanas a fim de elucidar conexões presentes ao passado cultural das populações estudadas, com o interesse de observar a reconstrução histórica através da constituição de uma lei geral baseada no particularismo histórico, das histórias reais de povos e de suas tradições culturais, assim como analisar os processos e as interações sociais entre os homens por meio de suas instituições, como o casamento, a utilização de máscaras, a arte primitiva, as simbologias religiosas, as conseqüências da imigração e dos tipos humanos em suas formas corporais e étnicas (que acredita ser instáveis), na decodificação e discussão sobre raça enquanto elemento unificador das diversas culturas humanas, baseado na freqüência de ocorrência de populações que se identificam dentro de grupos diferenciados, não apenas pelo fator biológico, mas especialmente, por seus aspectos sociais e culturais, por assim dizer.
Boas, em sua crítica ao evolucionismo, faz uma análise histórica sobre as culturas humanas, dando origem aos estudos do relativismo cultural, pois acredita que a difusão cultural aconteceu em várias direções em estágios de desenvolvimento diferenciados.
Radcliffe Brown, analisando o método de Boas, responde às críticas oferecendo o Método Comparativo como um objeto de estudo capaz de criar uma lei geral que compreenda a característica universal do pensamento humano, através dos paralelos e similaridades entre as manifestações culturais de diversos povos, especialmente em estudos comparados sobre o Totemismo Australiano e o Norte Americano, baseado na análise de “oposição” entre significados simbólicos totêmicos, que chamou de “união de opostos”, um conceito de Heráclito e que tem seus primórdios na filosofia chinesa de pelo menos quatro mil anos, esclarecendo, por exemplo, que o sistema de metades exogâmicas prevê uma generalização de casamento por troca e que a comparação entre as culturas humanas são deduções baseadas em aspectos que vão do particular para o geral, do geral para o mais geral e assim, chegando ao universal, em relações que vão desde inimizade e luta, de acordo e desacordo e de solidariedade e diferença, dizendo ainda que o método histórico precisa de uma análise geral da vida social e que, se assim não fizer, estará praticando apenas uma historiografia ou no máximo, uma etnologia da vida social.
O fato é que o particularismo histórico de Boas e as análises comparativas de Brown são complementares. Ambos são fundamentais para os estudos teórico práticos do pensamento antropológico do Século XXI, respeitadas suas singularidades metodológicas, sendo que podem ser aplicados em diversos campos da antropologia, seja no campo social, arqueológico, biológico, cultural ou lingüístico, caracterizando sua interdisciplinaridade e composição científica estrutural da sociedade humana.

Texto: Ariana da Silva
Foto IDEA/2010: Ariana da Silva

Bibliografia:

Boas, Franz. “Instabilidade de tipos humanos” In Stocking jr., George W.. (org.) A formação da antropologia americana 1883-1911/Franz Boas. Rio de Janeiro, Contraponto/EdUFRJ, 2004 [1909]: 258-263.
Boas, Franz. “Mudança na forma cultural dos imigrantes” In Stocking jr., George W.. (org.) A formação da antropologia americana 1883-1911/Franz Boas. Rio de Janeiro, Contraponto/EdUFRJ, 2004 [1908]: 244-258.
Boas, Franz. “Raça e Progresso, 1931” In Castro, Celso (org.) Franz Boas. Antropologia Cultural. Rio de Janeiro, Jorge Zahar editor, 2004 [1931]: 67-86.
Boas, Franz. “As limitações do método comparativo em antropologia, 1894” In Castro, Celso (org.) Franz Boas. Antropologia Cultural. Rio de Janeiro, Jorge Zahar editor, 2004 [1894]: 25- 39.
Boas, Franz. “Os métodos da etnologia, 1920” In Castro, Celso (org.) Franz Boas. Antropologia Cultural. Rio de Janeiro, Jorge Zahar editor, 2004 [1920]: 41-52.
Radcliffe-Brown, A. R.. “O método comparativo em Antropologia Social” In Zaluar Guimarães, Alba (Org.) Desvendando Máscaras Sociais. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1975: 195-210.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O Processo de Envelhecimento Social


A ONU estipulou de 1975 – 2025 como a Era do Envelhecimento (50 anos). O Brasil ocupará o 6º lugar no contexto mundial em 2025, chegando a aproximadamente 32 milhões de idosos. O segmento idoso é um segmento de estigmatizado no seu cotidiano. Costumamos classificá-los de velho, idoso, geronte, gerontino, velhote, ancião, terceira idade. Estas terminologias são o resultado da sociedade regida sob a lógica do mercado capitalista. Os Idosos uma vez aposentados ou incapazes de trabalhar são considerados improdutivos. Isto coloca o idoso numa espécie de “apartheid social” frente ao mercado sócio-econômico vigente. E obriga os idosos a conviverem com o sofrimento, com a violência e com a discriminação social.
A cidadania fica reduzida à condição de consumidor/produtor.
O Idoso é percebido como alguém não-produtivo, dependente, incapaz, um “peso social”, que necessita de muitos cuidados com a saúde: a velhice está ligada à idéia de uma ameaça inevitável, um processo gradual de diminuição de forças e capacidades.
A uma etapa difícil da vida que traz alterações na qualidade da vida, provocando quebra no status econômico, social e profissional, depressão, isolamento e doenças. Estas representações sociais que fazemos comumente dos idosos são influenciadas pelas práticas institucionais circulantes num determinado contexto sócio-histórico. Interferem nos comportamentos interativos dos idosos e daqueles que com eles convivem, nas modalidades do atendimento e na qualidade de suas vidas.Devemos criar e recriar imagens de um envelhecimento assimilando-o como parte integrante de nossas transformações bio-psicossociais de forma positiva.
Aspectos Bio-Psicossociais da Velhice:
A postura do idoso é um reflexo das relações que estabeleceu no passado e que ainda estabelece. Se alguma etapa do desenvolvimento humano não foi vivida de forma satisfatória, isso se refletirá na próxima etapa da vida, isso fica demonstrado no saudosismo.
Os sentimentos mais freqüentes dos idosos são:

- Medo da solidão, da impotência, da dependência;
- Da degeneração do corpo que a cada minuto aumenta,
- Medo de precisar de outra pessoa para viver e sobreviver,
- Medo de perder a consciência, esquecer as lembranças
- Medo de morrer só e que as pessoas que amam fiquem desamparadas.

Precisamos tomar consciência e ao mesmo tempo ter sensibilidade para perceber que envelhecer é inevitável, faz parte da existência humana, resultado do grande espetáculo de todo desenvolvimento humano e é fundamental viver essa etapa da vida, assim como todas as anteriores, possibilitando ser único no mundo, viver de forma satisfatória e feliz e poder registrar, mesmo que minimamente, sua experiência no mundo, poder completar o percurso: nascer, viver e morrer.

Aspectos biológicos:

Surgem rugas, cabelos brancos, calvície, osteoporose, artrose, hipertensão, perda de memória, cardiopatias; enfim há um declínio da sua força, disposição e aparência.

Aspectos psicológicos:

A motivação tende a diminuir e são necessários maiores estímulos para o idoso empreender uma nova ação. Características como enrijecimento do pensamento, certo grau de regressão, tendência a um certo tipo de reminiscências ou depressão, podem aparecer.

Aspectos Sociais:

Envolve um status político e econômico, que por exemplo, tem como marca a aposentadoria, a perda do papel profissional e de chefe de família tem como função a manutenção e controle da casa, e educação dos filhos.

Envelhecer, às vezes, é sinônimo de construção de um caminho que, no final da vida, fica mais difícil dar continuidade pela consciência da descontinuidade biológica. A velhice é encarada em nossa sociedade apenas negativamente, onde torna-se possível depositar tudo que remete à inutilidade, à dor, à finitude e a morte.

O idoso em outras sociedades:

Nas sociedades tradicionais, o velho representava a sabedoria, a paciência e a transmissão dos valores ancestrais. Era uma pessoa importante para o grupo, pois continha um lugar simbólico, onde era um elemento na vida do jovem. O idoso em determinadas culturas representa continuidade da história: binômio continuidade/memória que são valores almejados pelo grupo social. Numa sociedade indígena o idoso é sinônimo de manutenção e transmissão de conhecimentos. No Japão tem-se um extremo respeito pelos idosos, pois eles representam sabedoria.

Mitos e Verdades sobre o Envelhecimento:
Mito:

A velhice começa aos 60 anos.

Verdade:

A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu que a velhice se inicia aos 60 anos nos países em desenvolvimento, mas nos países desenvolvidos a idade sobe para 65 anos. A velhice NÃO começa em uma idade cronológica, nem ocorre de forma igual para todas as pessoas, é fruto de nossos hábitos e costumes. Nos anos 40 - era considerada velha uma pessoa de pouco mais de 50 anos de idade, e a expectativa de vida da população brasileira era de 45 anos. Hoje essa expectativa subiu para 71 anos, sendo que é maior para as mulheres - 75,2 anos e 67,6 anos para os homens. O envelhecimento é um processo pessoal e difere de pessoa para pessoa, de classe social para classe social e de época para época.

Mito:

O Velho não produz.

Verdade:

O velho é detentor de conhecimento, experiência e visão ampla do mundo, tendo condições de participar no mercado de trabalho, contribuindo com sua experiência e conhecimento acumulados ao longo dos anos. Não é só o jovem que produz e consome, o idoso pode exercer outras atividades produtivas e se tiver recursos, também vai consumir.

Mito:

A velhice é feia.

Verdade:

É evidente que com o decorrer do tempo o ser humano vai perdendo o frescor da juventude e a beleza exterior, tão valorizada em nossa sociedade. A beleza é um conceito efêmero que muda de geração para geração. O belo de hoje é muito diferente do belo de séculos passados. Atualmente, no entanto, valoriza-se, até com certo exagero, a beleza juvenil. A beleza da idade está refletida na sensatez, sabedoria e sobriedade, e também nas rugas e nos cabelos brancos como marcas do tempo.

Mito:

O envelhecimento acarreta perda da memória.

Verdade:

Os efeitos do envelhecimento sobre a memória não são inevitáveis nem irreversíveis. As pessoas possuem capacidade de recordar em qualquer idade, desde que exercitem a memória. O jovem também esquece, também se engana e ainda age muitas vezes de maneira ilógica. 

Mito:

A velhice é uma etapa totalmente negativa.

Verdade:

A maioria dos idosos não tem limitações, nem suas vidas são negativas e dependentes. 
Uma pessoa idosa possui várias experiências, conhecimentos e saberes que um jovem não pode ter, mas este possui a força e a vitalidade que o velho carece. Se a sociedade valorizar unicamente o vigor físico, o idoso fica em desvantagem.
O importante numa sociedade democrática e pluralista é respeitar a condição do idoso, sua experiência e conhecimento da vida, equilibrando com a capacidade de inovação, iniciativa e vitalidade do jovem.  

Mito:

Idoso só gosta de bingo e baile.

Verdade:

O baile traz a possibilidade de relembrar e reviver momentos prazerosos, desenvolver a sociabilidade, as habilidades e talentos, promover a atividade física por meio da dança, estimular a sensualidade, desenvolver o gosto pela música e soltar a imaginação e fantasia. Esta atividade não se restringe apenas aos idosos, ela tem efeitos positivos em qualquer faixa etária. O bingo pode ser um excelente espaço de sociabilidade quando promovido com o objetivo de diversão e integração comunitária.
Quando a atividade se caracteriza como comercial pode levar ao vício, isolamento e perdas materiais, que são aspectos negativos em qualquer faixa etária.

Mito:

Velhice é doença

Verdade:

Há muitos meios de prevenir doenças e preservar a saúde física e mental. Existem doenças que se manifestam na velhice, mas podem ter sido adquiridas na infância e se agravaram ao longo da vida. O envelhecimento com qualidade depende da prevenção, de cuidados e hábitos saudáveis cultivados desde os primeiros anos de vida.  

Mito:

O velho é ranzinza.

Verdade:

A pessoa que possui características como teimosia, rigidez, mau humor, é considerado ranzinza e pode tê-las acentuada na velhice, no entanto, estes comportamentos não são exclusivos da pessoa idosa.

Mito:

O envelhecimento traz impotência sexual.

Verdade:

Hoje os médicos, psicólogos e sexólogos já desmistificaram esse assunto tão importante para a pessoa em todas as etapas da vida. O corpo muda, mas a sexualidade continua, a sensibilidade fica refinada e mais bela. É importante manter os cuidados preventivos em relação as doenças sexualmente transmissíveis, garantindo assim o sexo seguro e reverter estatísticas que apresentam altos índices de AIDS entre os idosos.  

O fato é que o Brasil está "envelhecendo" e precisamos rever conceitos sobre a "velhice", seus mitos e verdades e ordenar valores de respeito com a pessoa idosa em seu processo singular enquanto "pessoa", dentro de uma ótica cidadã e da sua condição de ser humano que merece atenção, carinho e proteção integral do Estado, da família e da sociedade, na qual tanto contribuiu e ainda contribui com trabalho e sabedoria que todo idoso e toda idosa possui.

Aula organizada no Curso "Cuidadores de Idosos" ministrada na Escola Técnica do Sistema Único de Saúde - SUS - ETSUS/Pará (Ariana da Silva).
Fotos: Mestre Verequete e Mestre Laurentino via Google.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Mini-curso: Espiritualidade, Educação e Saúde nas Artes Marciais - Faculdade Messiânica - São Paulo



Mini-curso: Espiritualidade, Educação e Saúde nas Artes Marciais

Proponente: Fabio Cardias (docente Universidade Federal do Maranhão/doutorando USP/budō e capoeira); Luiz Kobayashi (doutor em Engenharia POLI-USP/kendō e iaidō); Luciano de Lacerda Gurski (docente/técnico pedagógico Secretaria de Estado de Educação do Paraná/aikidō); Marcel Farias (docente Universidade Federal de Goiás/budō).

O objetivo principal deste minicurso é introduzir o histórico, desenvolvimento, parâmetros curriculares nacionais e regionais, pesquisas atuais e referências em autores japoneses sobre as dimensões da espiritualidade, educação e saúde presentes nas artes marciais. O enfoque será dado às artes marciais de origem nipônica, baseado nos teóricos eméritos no estudo acadêmico do budō, ou dos caminhos marciais japoneses, como Ichiro Watanabe, Nakabayashi Shinji e Iriê Kouhei, dentre outros, ainda desconhecidos no Brasil. O minicurso é uma iniciação a campo tão rico em aspectos simbólicos para o equilíbrio fisiopsíquico, social e ecumênico interessantes à educação humana em geral. Haverá exposições teóricas em forma de aula expositiva, apresentação de vídeos recentes, vivência marcial e debates em grupo.

http://www.faculdademessianica.edu.br/seminario/minicursos.jsp


Postado por Fábio Cardias, http://cardiasfabio.blogspot.com/
Quarta-feira, 27 de outubro de 2010.
Nas fotos: Fábio Cardias em treinamento/Próximo à estátua Bujutsu (Japão).

E no princípio...


O artigo de Walter Neves (citado abaixo) procura estabelecer a evolução histórica de nossa linhagem, a dos hominídeos (hominíneos), através da Teoria da Evolução (Darwin), baseado em dados científicos da Paleoantropologia e dos achados fósseis de milhões de anos em diversos sítios arqueológicos pelo mundo, especialmente os do Continente Africano.
A partir do que o autor classifica como o princípio da replicabilidade, como a possibilidade de outros cientistas garantirem a autocorreção das observações científicas replicando-as, refutando-as ou confirmando-as, como contraponto estabelece a idéia emprestada de Descartes chamada de “morais provisórias”, a fim de contextualizar a aproximação da Ciência com os fatos que deseja evidenciar e até mesmo manipular, através dos próprios fatos em sociedade, que são utilizados para testar as teorias em nossa contemporaneidade.
Neves se esforça em descrever a “saga evolutiva” da humanidade a ponto de evidenciar uma indicação que estabelece como referência os fósseis encontrados pela Ciência Ocidental, particularmente a contar da década de 70, resultado de um “processo”, que compreende: a fixação da bipedia; a fabricação de ferramentas de pedra; o consumo expressivo de proteína animal, o desenvolvimento de cérebro grande e complexo; a fixação da capacidade de significação no cérebro; revolução criativa e tecnológica e a ocupação de todo o planeta.
O processo evolutivo é entendido como um processo histórico, sendo que o autor evidencia a complexidade do processo de evolução baseado na Seleção Natural, adaptabilidade de situações e condições ambientais e, especialmente, ao que intitula como “acaso” e “necessidade” darwinianas, com o intuito de explicitar as diversas etapas da linhagem evolutiva de nossa espécie.
Uma das principais – e fundamentais – características desse processo evolutivo está na fixação da bipedia, já que entre os primatas, somos os únicos que nos locomovemos em posição vertical, indicado como um marcador exclusivo da linhagem humana. Darwin entendia que a fabricação de ferramentas havia sido a força seletiva que teria delimitado a fixação da bipedia, contudo, com as descobertas de fósseis de aproximadamente sete milhões de anos caracterizados até então como os primeiros bípedes, “quebra-se” (desmistifica-se, esclarece) o “mito” (“dogma”) da relação entre ferramentas versus bipedia, pois entre ambos existe uma lacuna de pelo menos 5 (cinco) milhões de anos. A bipedia pode ter sido fixada primeiro como hábito postural e após, locomocional. A locomoção bípede vertical ocorreu por volta de 2,5 (dois e meio) milhões de anos, coincidente com o surgimento do gênero Homo na África.
A bipedia é o resultado de quatro grandes novidades evolutivas em sequência cumulativa histórica: a hortogradia (liberação do tronco); a nodopedalia (alongamento dos braços); a fixação arborícola (fixação de bacias baixas e largas) e a fixação exclusivamente terrestre (encurtamento dos braços e alongamento das pernas).
A fabricação de ferramentas começou há cerca de 2,5 milhões de anos, sendo que os primeiros lascadores de pedra produziram apenas alguns “poliedros” ou “esferóides” no seu “kit de ferramentas” (nas palavras de Neves), que demarcaram o lascamento controlado de pedra com a capacidade motora desenvolvida para o período.
A pressão seletiva que levou à fixação da capacidade seletiva de fabricar e utilizar instrumentos de pedra foi o acesso à proteína animal em uma quantidade expressiva pelo processo de savanização da África, constituindo a fauna com gazelas, zebras e antílopes (pastadores) como a melhor fonte de comida rica em energia e proteínas; o carniçamento ou “carniçagem” permitiu a produção de lascas afiadas, aumentando nosso “kit de ferramentas” e que foi um grande impacto na evolução humana, sendo que os “machados de mão” indicam o “arquétipo imaginativo” de uma busca por um determinado formato produzido mentalmente com o surgimento de ferramentas especializadas com graus refinados de lascamento, o que caracteriza o “variante” da espécie.
A fixação do hábito cotidiano de lascar de forma controlada deve ter sido promovida pela viabilização da exploração da proteína animal em um contexto competitivo muito acirrado e pobre em recursos vegetais de alta qualidade nutricional e que delimita a diferenciação de nichos ecológicos, sendo que é possível que os vegetarianos exclusivos tenham sido extintos por seleção natural há aproximadamente um milhão de anos e a linhagem carnívora – que é também adaptada à ingestão de vegetais – tenha melhor se adaptado sob a perspectiva ecológica, o que pode ter contribuído para a constituição de um cérebro grande, que é um órgão “nobre”, caro, no sentido de necessitar de uma quantidade de energia e calorias que representam de 20 a 30% para manter o seu funcionamento. Não existe uma “solução adaptativa perfeita” e muitas vezes, animais muito distintos tem problemas adaptativos “resolvidos” por fixação de características anatômicas, o que possibilitou linhagens “paralelas aos humanos”, como os megadontes.
O desenvolvimento de um cérebro grande e complexo é característico do gênero Homo, no entanto, o que marca nossa linhagem é a fixação da bipedia exclusivamente terrestre e que foram os primeiros a deixar a África. O diferencial entre o Homo é o seu agrupamento social, pois quanto maior o grupo, mais arrojado se torna o processo de cooperação entre indivíduos, de sobrevivência, subsistência e de capacidade de desenvolver as inteligências naturalista, tecnológica e social, o que possibilitou talvez o quadro de significação cerebral exclusivo da espécie humana.
Especialistas acreditam que um novo módulo de fixação derivou o aspecto de nossa criatividade ilimitada, o que teria feito aflorar sistemas complexos de significação e simbologias também ilimitadas. Nosso maior sistema simbólico é a fala articulada, a capacidade de ter uma língua entre pares grupais pelo qual coisas, sentimentos, tempos, ações, interações e intenções podem ser expressas de maneira fluída, com precisão e de maneira sintética: o processo de comunicação social deve ter sido o diferencial adaptativo sobre o qual a força seletiva incidiu, fixando nosso módulo mental de significação, inclusive os mal-adaptativos (como a vaca Sagrada, na Índia).
O fato foi que a revolução do significado (criativa) do Paleolítico Superior, ocorrida em torno de 45 mil anos completou a “morfologia social” do homem moderno: primeiro, 200 mil anos, surgiu o homem anatomicamente moderno (esqueletalmente); segundo, há 45 mil anos, o homem comportamentalmente moderno. A mente moderna engendrou criatividade e significado em todas as dimensões da vida, que além de multiplicar nosso “kit de ferramentas”, expressou estilos pessoais e grupais, marcou identidades individuais e coletivas (etnicidade) e dotou o homem com uma mente complexa e poderosa capaz de ocupar todas as regiões do planeta, sendo assim, o Homo Sapiens, é provavelmente a única espécie dotada de pensamento simbólico, “singularidade” não repartida com as demais espécies e que constitui "cultura" dentro de aspectos dinâmicos e complexos como conhecemod hoje...

Resumo sobre o texto de Walter Neves, por Ariana da Silva - PPGA-UFPA - Artigo: E no princípio... era o macaco!: NEVES, Walter. Estudos Avançados 20 (58), 2006, p. 249-285.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Dia do Professor (a) - 15 de Outubro de 2010



Um país sério é aquele que valoriza, incentiva e proporciona a EDUCAÇÃO - de fato e de direito! - e, especialmente, que RESPEITA os Profissionais do Sistema Educacional no sentido amplo: com Qualidade no ensino (com Q maiúsculo!), melhoria na infraestrutura das escolas (com carteiras, quadros, ventiladores (ar condicionado (?), merenda escolar adequada, salas de vídeo e de "multimídia", bibliotecas...), com o aprimoramento e a modernização de suas redes sociais (com ONG's, Esporte, Dança, Teatro...), incentivo à leitura (ou à boa leitura - dos "Clássicos aos Pós Modernos"), reformulação do tão-discutivo-e-nada-prático "currículo de aprendizagem" (ultimamente defasado por sua "própria natureza" e que, entre tantos "ajustes" e vicissitudes que pairam sobre as LDB's da vida, continuam a reproduzir as idéias positivistas do século XIX) e, finalmente, proporcionar aos PROFESSORES e PROFESSORAS (assim como os técnicos e equipes de apoio) condições de dignidade salarial e intelectual (com a tão sonhada progressão que nunca "progride" assim como a facilidade de acesso a programas de pós-graduação e bolsas sem a "podridão dos bastidores e apadrinhamentos políticos" das Secretarias de Educação por aqui e pelo Brasil afora), para que, enfim, o "altruísmo professoral" possa dar vazão a uma verdadeira DIGNIDADE COM ENSINO PÚBLICO E DE QUALIDADE que tanto se propagandeia e que quase nada se vê.
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas diariamente, com salas calorentas, sem nennhum equipamento didático, com ventiladores caindo aos pedaços (às vezes caindo na cabeça dos alun@s!), sem mesas nem carteiras (eram escolas muito "engraçadas", não tinham teto, não tinham nada, aliás, ainda são!) e outros inúmeros problemas, é importante sempre lembrarmos que o DIA DO PROFESSOR (da folga do "pão e circo") é uma comemoração de cunho POLÍTICO, cujo objetivo é estabelecer a CRÍTICA a uma EDUCAÇÃO que precisa ser QUESTIONADA e principalmente, para que, enfim, possamos compreender que, mesmo nadando contra a maré, ainda assim, podemos fazer a DIFERENÇA...
FELIZ DIA DO PROFESSOR (A)!!!

Texto: Ariana da Silva

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Belém do Pará


Belém é uma cidade encantada.
Com terreiros de Umbanda, Candomblé, Tambor de Mina e homenagens à Iemanjá no mês de Dezembro.
Um lugar que acorda cedo no Ver-o-Peso, na Feira da Pedreira, da 25...
Uma "cidade-ribeirinha" que todos os domingos pode escutar (e dançar!) o "tradicional" Carimbó ao pôr-do-sol no Mormaço, na Cidade Velha.
Belém é uma cidade que lê.
Na Feira do Livro.
Na UFPA (à beira do rio ou na Biblioteca do IFCH, só para divulgar a "nossa" biblioteca!).
Na Praça da República, Batista Campos, Eneida de Moraes (a Praça e a Autora... Mamãe fez uma promessa pra "eu pagar" no Círio de 2010, ainda bem que ela não pediu para eu ir de "vestido azul", porque o meu "novo" é estampado...).
Belém é lugar acalorado.
Pelo clima quente e úmido, pelo calor humano, pelo estado abafado após a "chuva das duas" (que às vezes cai às 3!).
E, especialmente, pelo "acolhimento" dos paraenses da Capital, que recebem os turistas de fora e do "interior" com tanto carinho, como agora durante os festejos da Quadra Nazarena, nos 15 dias de Arraial - com a colaboração "profana" do "Cordão do Peixe-Boi" e da "mais-que-profana-e-diversa" "Festa da Chikita", que acontece após os "fogos da trasladação" no "Natal dos Paraenses" (que será agora, o Domingo do Círio, dia 10.10.2010 - que merece um 10 de cada um de nós, belenenses! Por tudo...).
Zuenir Ventura tem razão quando esclarece que não podemos "rotular" Belém através de "clichês" (eu, como aspirante à antropóloga, diria "estranhar" = reconhecer, perceber, sentir, dialogar, descrever, etnografar e analisar), nem muito menos interpretá-la com um "olhar distante", "de cima", "atravessado", "desconfiado",
"estigmatizado" pelo processo histórico e, apesar da "natureza política atual" (que não nos deixa muitas escolhas), ainda assim é preciso que possamos "ver" a nossa cidade afim de, de fato, lançar um "olhar antropológico, histórico, humano e local" como diria Geertz), para que, finalmente, o país inteiro tome "ciência" de que "vidas inteligentes" habitam aqui, como disse o Profº Dr. Márcio Couto...
Vidas inteligentes, hospitaleiras, calorosas, que se encontram pelas esquinas de toda a cidade, que lutam por melhorias e qualidade na educação; de pessoas que amam nossa Belém mesmo com todos os problemas enfrentados de saneamento básico e péssima distribuição de renda e, ainda assim, tradicionalmente, costumam valorizar a cultura e o nosso cotidiano social tão variado...
Nesse clima ufanista, desejo a tod@s um feriadão maravilhoso e fartura no almoço de domingo, com muita maniçoba e alegria...
Feliz Círio!
Até a próxima!
Ariana da Silva.

Foto: Ariana da Silva - Ver-o-Peso

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

"Meu corpo, meu território sagrado" - Considerações sobre o Encontro de Mulheres Negras Quilombolas


Um Encontro político. De Mulheres que representam seu espaço social através das relações de gênero que pretendem discutir utilizando-se da ótica da palavra de ordem de nossa contemporaneidade: “Inclusão Social”. Negras mulheres, mulheres negras em toda a sua plenitude, atitude, etnicamente diferenciadas, que em cada comunidade de onde partiram originariamente, de cada casa, de cada caminho, de cada história de vida e de todos os cantos do Estado do Pará e de Estados convidados como do Sul e do Sudeste, persistem lutando por igualdade de direitos. Mulheres Negras e Quilombolas, demarcando sua delimitação espacial, seu território social, Sagrado, “Afro-Étnico-Brasileiro”, de uma população que ao longo do processo de ressignificação de valores culturais, religiosos, psicossociais e jurídicos ecoam um discurso que se emite com convicção, para que a sociedade paraense (e brasileira) de fato ouça, com “tambores de crioulas” anunciando a razão de suas falas, falas por vezes extremamente emocionadas, com vozes firmes e embargadas pelo calor da emoção momentânea, calor humano, negro, mulato, mestiço, “pardo”, com musicalidade, africanidade, ancestralidade, feminilidade e da mais valente resistência, resistência que se inscreve em solo quilombola, simbólico, o campo da diversidade, que tem em Palmares sua reverência de liberdade humana no seio de um país tão desigual, excludente, injusto, por assim dizer e que, apesar de tantas vicissitudes da história tradicional, reescrevem sua própria história: mulheres, negras, avós, mães, tias, irmãs, parentes, trabalhadoras, parteiras, erveiras, rezadeiras, mães e filhas de santo, todas reunidas no território sagrado dos Remanescentes Quilombolas de Itacuã-Miri, Município do Acará (Pará), com o intuito de encontrar diálogos possíveis a fim de que, finalmente, sejam incluídas socialmente, de fato e de direito.
O cenário do VI Encontro de Mulheres Negras Quilombolas do Estado do Pará do ano de 2010 é equivalente a uma organização política e de identidade em processo, que se constrói na mesma medida em que se buscam soluções para inúmeros contextos e que, na fala honrosa da Profª Drª em Ciências Sociais Zélia Amador, refazem os caminhos de uma história diferente a partir de agora, a história que se pretende construir e que, através da análise do corpo, da corporeidade, do gostar de si e do Outro (a), tonifica a visão de mundo de um movimento social negro em pleno movimento.
Por Ariana da Silva, Belém do Pará, sobre o encontro em Itacuã-Mirim, Pará.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

VI Encontro de Mulheres Negras Quilombolas do Estado do Pará de 2010: “Meu corpo, meu território sagrado” – Itacuã-Miri – Acará


O VI Encontro de Mulheres Negras Quilombolas do Estado do Pará do ano de 2010, ocorrido de 12 a 15 de agosto, aconteceu no Município do Acará, na Comunidade Quilombola de Itacuã-Miri, cerca de uma hora e meia de Belém em viagem de ônibus interestadual.
O Encontro reuniu em torno de 400 mulheres quilombolas de vários municípios paraenses e contou também com a participação de mulheres convidadas advindas de Estados do Sul e do Sudeste brasileiros. Entre os organizadores estavam o CEDENPA (Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará), o IMUNE (Instituto Mulheres Negras), o FULANAS Regional Amapá (Articulação de Mulheres Negras da Amazônia Brasileira), entre outros Órgãos e Entidades Governamentais e Não-Governamentais. A organização garantiu alimentação e hospedagem a todas as mulheres que respectivamente representavam Associações, Sindicatos, Comunidades de Remanescentes Quilombolas, Grupos Religiosos, Movimentos de Trabalhadoras Rurais, ONG’s, Setores de Saúde, pesquisadoras em trabalho de campo antropológico e outras categorias sociais, que durante o período da tarde do primeiro dia do Encontro, após o credenciamento, puderam receber uma “sessão de feminilidade” com o “Limpa Corpo” (com as meninas, adolescentes e mulheres trançadeiras) como também sessões de manicure e pedicure com unhas decorativas, especialidades das mulheres trançadeiras de Itacuã-Miri com acesso gratuito a todas as participantes.

A temática “Meu Corpo, Meu Território Sagrado” do VI Encontro de Mulheres Negras Quilombolas do Pará embalou os quatro dias de discussões que culminaram em diversos questionamentos e trocas de idéias entre as mulheres que estavam presentes no “território sagrado do quilombo”, no qual abordavam temas como o Corpo, a Saúde, o Respeito pelo Outro e sobre si mesmas, a Liberdade Intelectual e Sexual, Plantas e Ervas da Etnomedicina e, principalmente, a importância da Mobilização Política de Mulheres no processo de incorporação da luta social pela inclusão.

O Corpo é história, história de exploração e é capaz de expressar muitas metáforas da vida coletiva, atuando como o campo das performances visuais do self simbólico que emana do próprio corpo histórico. A diáspora Africana hoje e no processo de Descolonização, trás um pedaço do Continente para o Brasil e, nesse sentido, é preciso que o país consiga compreender que as negras os e os negros são o resultado dessa dispersão e que, à medida que o movimento político e social busca em seu discurso configurar a sua prática da liberdade, o Corpo engloba, por assim dizer, a liberdade dos corpos em constante movimento, onde o Canto, a Música e o Ritual ditam o ritmo libertador e são resultados desse processo ancestral, que na linguagem corporal são as “falas” no universo simbólico da cultura de Matriz Africana que busca romper com as barreiras sociais construídas pelo Capitalismo e pela “cultura do branco”.
O Corpo é um espaço de memória, de história, um espaço que eu tenho que prezar, dele depende a minha vida e a continuação de minha história. A responsabilidade do Corpo é minha, o reconhecimento de ancestralidade e por minha relação étnica, racial, histórica. Meu Corpo não está sozinho, porque ele carrega uma história, uma história de exploração e de opressão e a atitude de estar aqui, “de corpo presente”, trás a possibilidade de reescrever a história. O Estado Brasileiro precisa efetivar políticas públicas e afirmativas para que o Corpo, o território sagrado da liberdade, possa seguir no caminho da resistência sócio-política de mulheres que compreendem o seu Corpo e a sua trajetória social e o VI Encontro de Mulheres Negras é um passo no limiar dessa caminhada.

Por: Ariana da Silva - Itacuã-Miri (Pa), Agosto/2010.

domingo, 18 de julho de 2010

Homoafetividade - Por Ms. Wladirson Cardoso


Amig@s,

O senado argentino aprovou ontem (15/07/2010) a lei que regulamenta o casamento gay. Após votação polêmica que dividiu a opinião pública e suscitou inúmeras controvérsias de naturezas diversas, a Argentina tornou-se, finalmente, o primeiro país da América Latina a aceitar as pressões do movimento LGBT e reconhecer a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Os políticos brasileiros deveriam seguir o exemplo e discutir (seriamente) e aprovar (rapidamente) o Projeto de Lei nº. 2285/2007 que disciplina a matéria, visto que, apesar da jurisprudência estatal reconhecer a faticidade daquilo que se chama de união homoafetiva, é necessário, num contexto jurídico-legalista como o nosso, possuir uma norma ou legislação específica que disponha sobre a temática, muito embora saibamos que "os lírios não brotam da lei"...

Estamos em um ano eleitoral, por isso, devemos trazer à tona este debate, a fim de que nossos presidenciáveis se posicionem e emitam sua opinião e seus projetos e/ou planos de governo para este grupo de pessoas que, em razão do machismo histórico e, portanto, das dissimetrias das relações de gênero, encontram-se numa situação de vulnerabilidade, sofrendo ataques homofóbicos que vão das piadas jocosas dos programas humorísticos de televisão até à agressão física e morte de homens e mulheres que assumem uma outra orientação sexual, diferente da instituída pela heteronormatividade dominante.

Assim, todas as demandas do movimento LGBT inscrevem-se na compreensão da diversidade cultural e, também, da diversidade sexual enquanto uma prerrogativa eminentemente existencial e política no sentido de pensarmos temas e questões que dizem respeito à consolidação das instituições democráticas brasileiras, em vistas da defesa dos Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais. Cada um de nós, que acredita no respeto e na compreensão do outro como pressuposto do exercício da alteriadade, temos, portanto, a obigação de dizer SIM ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, a despeito de credo, cor, religião ou raça, posto que se trata de um imperativo da modernidade e não de um capricho da intelectualidade.

Neste sentido, comentem este e-mail! Façam-no circular! Levem este assunto a diante - às escolas, igrejas, associações de bairro, partidos políticos, enfim ... Criemos, pois, uma verdadeira comunidade discursiva em que todos e todas tomem ciência deste que é um dos aspectos mais desafiadores da contemporaneidade, qual seja, a felicidade e o amor entre iguais.

Att,

Wladirson Cardoso

Bacharel/Licenciado em Filosofia (IFCH/UFPA)
Mestre em Direitos Humanos (PPGD/UFPA)
Doutorando de Antropologia (PPGA/UFPA)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Campanha Ponto Final Na Violência Contra Mulheres e Meninas - Porto Alegre



Campanha Ponto Final Na Violência Contra Mulheres e Meninas

PONTO FINAL NA VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES E MENINAS
Prevenir, punir e eliminar fatos que compõem a macabra estatística

No enfrentamento à violência de gênero, o movimento de mulheres identifica, há quatro décadas, que a banalização dos fatos, dada sua freqüência e proximidade das pessoas, a leva a tornar-se um evento natural nas relações sociais. Faz parte do comportamento humano, portanto, aceitável.
Pelo menos três fatos no dia de hoje confirmam essa tese: o assassinato de Eliza Samudio, jovem que teve um filho com o goleiro Bruno do Flamengo (fato ocorrido em Minas Gerais), o estupro de uma adolescente em Florianópolis pelo filho de empresário de comunicação e o filho de um delegado de polícia, um caso caracterizado como ?dorme Cinderela? (Santa Catarina) e agora um caso de estupro de uma mulher numa clínica médica em Porto Alegre, enquanto fazia uma endoscopia com sedação (Rio Grande do Sul). Muitos outros casos poderiam ser arrolados no dia de hoje, segundo a frequência em que ocorrem ? 4 por minuto no Brasil (FPA, 2002).
Dados recentemente revelados pelo Mapa da Violência no Brasil 2010, realizado pelo Instituto Zangari, com base no banco de dados do Sistema Único de Saúde (Datasus), revelam a ocorrência de 10 assassinatos de mulheres por dia. Entre 1997 e 2007, 41.532 mulheres morreram vítimas de homicídio ? índice de 4,2 assassinadas por 100 mil habitantes. Algumas cidades brasileiras, como Alto Alegre, em Roraima, e Silva Jardim, no Rio de Janeiro, registram índices de homicídio de mulheres perto dos mais altos do mundo.
As histórias de violência só se tornam alvo de indignação quando chegam aos meios de comunicação, pois no mais das vezes caem no esquecimento, quase sempre na impunidade da lei, mas na maioria dos casos, na impunidade da consciência coletiva, pois simplesmente ?esquecemos?, são números de uma estatística macabra, que se perdem nos cotidianos das vidas comuns.
A forma de ver e enfrentar a violência contra mulheres e meninas tem que mudar. São mortes anunciadas, pois o goleiro Bruno já se pronunciara há cerca de dois meses como defensor de uma agressão. Outro colega seu comparou as mulheres com uma bola de futebol que pode ser chutada. O caso Abdelmassih (São Paulo, 2009), mostrou aonde pode chegar o assédio sexual e moral de pacientes em consultório, e a lista de jovens violadas sexualmente no Brasil tem 500 anos, passando pelas indígenas, pelas negras, chegando a todas as classes sociais e lugares.
A Rede Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, coordenadora da CAMPANHA PONTO FINAL NA VIOLENCIA CONTRA MULHERES E MENINAS, ao lado da Rede de Homens pela Equidade de Gênero, de Agende Ações de Gênero Cidadania e Desenvolvimento e Coletivo Feminino Plural, apoiada por Themis, Maria Mulher e três centenas de mulheres e entidades filiadas em todos os estados brasileiros, vem a público alertar para este problema.
É preciso denunciar, investigar, punir todos os agressores e matadores de mulheres e meninas. É preciso que a Lei Maria da Penha seja implacavelmente aplicada, sob o risco de o sistema de segurança e justiça ser considerado omisso e conivente com a violência de gênero, caracterizando como um feminicídio o que se processa no país.
É preciso que a sociedade se indigne e se mobilize para que nenhum caso de violência será tolerado. A violência contra mulheres e meninas é algo intolerável, inaceitável, fere a consciência da humanidade, é uma violação aos direitos humanos. Afeta a saúde, reduz anos e qualidade de vida das mulheres.
O Brasil, como signatário dos documentos internacionais de direitos humanos das mulheres, e tendo uma legislação nacional a ser cumprida, não pode calar-se e omitir-se.
Espera-se de cada autoridade que faça sua parte. E da sociedade e do movimento de mulheres, que protestem contra estas manifestações do atraso cultural, do machismo e da omissão.

Porto Alegre, 8 de Julho de 2010

COORDENAÇAO EXECUTIVA DA CAMPANHA PONTO FINAL
Avenida Salgado Filho, 28, cj 601 ? POA/RS ? Fone 51 32124998. http://www.redesaude.org.br/portal/pontofinal/index.php

A campanha é de caráter nacional e a sua divulgação e discussão de extrema importancia para o repúdio à violência de gênero. O grupo NOSMULHERES da UFPA é um dos instrumentos institucionais e educacionais de apoio. Um abraço a todos!
Ariana da Silva

domingo, 11 de julho de 2010