quinta-feira, 30 de setembro de 2010

"Meu corpo, meu território sagrado" - Considerações sobre o Encontro de Mulheres Negras Quilombolas


Um Encontro político. De Mulheres que representam seu espaço social através das relações de gênero que pretendem discutir utilizando-se da ótica da palavra de ordem de nossa contemporaneidade: “Inclusão Social”. Negras mulheres, mulheres negras em toda a sua plenitude, atitude, etnicamente diferenciadas, que em cada comunidade de onde partiram originariamente, de cada casa, de cada caminho, de cada história de vida e de todos os cantos do Estado do Pará e de Estados convidados como do Sul e do Sudeste, persistem lutando por igualdade de direitos. Mulheres Negras e Quilombolas, demarcando sua delimitação espacial, seu território social, Sagrado, “Afro-Étnico-Brasileiro”, de uma população que ao longo do processo de ressignificação de valores culturais, religiosos, psicossociais e jurídicos ecoam um discurso que se emite com convicção, para que a sociedade paraense (e brasileira) de fato ouça, com “tambores de crioulas” anunciando a razão de suas falas, falas por vezes extremamente emocionadas, com vozes firmes e embargadas pelo calor da emoção momentânea, calor humano, negro, mulato, mestiço, “pardo”, com musicalidade, africanidade, ancestralidade, feminilidade e da mais valente resistência, resistência que se inscreve em solo quilombola, simbólico, o campo da diversidade, que tem em Palmares sua reverência de liberdade humana no seio de um país tão desigual, excludente, injusto, por assim dizer e que, apesar de tantas vicissitudes da história tradicional, reescrevem sua própria história: mulheres, negras, avós, mães, tias, irmãs, parentes, trabalhadoras, parteiras, erveiras, rezadeiras, mães e filhas de santo, todas reunidas no território sagrado dos Remanescentes Quilombolas de Itacuã-Miri, Município do Acará (Pará), com o intuito de encontrar diálogos possíveis a fim de que, finalmente, sejam incluídas socialmente, de fato e de direito.
O cenário do VI Encontro de Mulheres Negras Quilombolas do Estado do Pará do ano de 2010 é equivalente a uma organização política e de identidade em processo, que se constrói na mesma medida em que se buscam soluções para inúmeros contextos e que, na fala honrosa da Profª Drª em Ciências Sociais Zélia Amador, refazem os caminhos de uma história diferente a partir de agora, a história que se pretende construir e que, através da análise do corpo, da corporeidade, do gostar de si e do Outro (a), tonifica a visão de mundo de um movimento social negro em pleno movimento.
Por Ariana da Silva, Belém do Pará, sobre o encontro em Itacuã-Mirim, Pará.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

VI Encontro de Mulheres Negras Quilombolas do Estado do Pará de 2010: “Meu corpo, meu território sagrado” – Itacuã-Miri – Acará


O VI Encontro de Mulheres Negras Quilombolas do Estado do Pará do ano de 2010, ocorrido de 12 a 15 de agosto, aconteceu no Município do Acará, na Comunidade Quilombola de Itacuã-Miri, cerca de uma hora e meia de Belém em viagem de ônibus interestadual.
O Encontro reuniu em torno de 400 mulheres quilombolas de vários municípios paraenses e contou também com a participação de mulheres convidadas advindas de Estados do Sul e do Sudeste brasileiros. Entre os organizadores estavam o CEDENPA (Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará), o IMUNE (Instituto Mulheres Negras), o FULANAS Regional Amapá (Articulação de Mulheres Negras da Amazônia Brasileira), entre outros Órgãos e Entidades Governamentais e Não-Governamentais. A organização garantiu alimentação e hospedagem a todas as mulheres que respectivamente representavam Associações, Sindicatos, Comunidades de Remanescentes Quilombolas, Grupos Religiosos, Movimentos de Trabalhadoras Rurais, ONG’s, Setores de Saúde, pesquisadoras em trabalho de campo antropológico e outras categorias sociais, que durante o período da tarde do primeiro dia do Encontro, após o credenciamento, puderam receber uma “sessão de feminilidade” com o “Limpa Corpo” (com as meninas, adolescentes e mulheres trançadeiras) como também sessões de manicure e pedicure com unhas decorativas, especialidades das mulheres trançadeiras de Itacuã-Miri com acesso gratuito a todas as participantes.

A temática “Meu Corpo, Meu Território Sagrado” do VI Encontro de Mulheres Negras Quilombolas do Pará embalou os quatro dias de discussões que culminaram em diversos questionamentos e trocas de idéias entre as mulheres que estavam presentes no “território sagrado do quilombo”, no qual abordavam temas como o Corpo, a Saúde, o Respeito pelo Outro e sobre si mesmas, a Liberdade Intelectual e Sexual, Plantas e Ervas da Etnomedicina e, principalmente, a importância da Mobilização Política de Mulheres no processo de incorporação da luta social pela inclusão.

O Corpo é história, história de exploração e é capaz de expressar muitas metáforas da vida coletiva, atuando como o campo das performances visuais do self simbólico que emana do próprio corpo histórico. A diáspora Africana hoje e no processo de Descolonização, trás um pedaço do Continente para o Brasil e, nesse sentido, é preciso que o país consiga compreender que as negras os e os negros são o resultado dessa dispersão e que, à medida que o movimento político e social busca em seu discurso configurar a sua prática da liberdade, o Corpo engloba, por assim dizer, a liberdade dos corpos em constante movimento, onde o Canto, a Música e o Ritual ditam o ritmo libertador e são resultados desse processo ancestral, que na linguagem corporal são as “falas” no universo simbólico da cultura de Matriz Africana que busca romper com as barreiras sociais construídas pelo Capitalismo e pela “cultura do branco”.
O Corpo é um espaço de memória, de história, um espaço que eu tenho que prezar, dele depende a minha vida e a continuação de minha história. A responsabilidade do Corpo é minha, o reconhecimento de ancestralidade e por minha relação étnica, racial, histórica. Meu Corpo não está sozinho, porque ele carrega uma história, uma história de exploração e de opressão e a atitude de estar aqui, “de corpo presente”, trás a possibilidade de reescrever a história. O Estado Brasileiro precisa efetivar políticas públicas e afirmativas para que o Corpo, o território sagrado da liberdade, possa seguir no caminho da resistência sócio-política de mulheres que compreendem o seu Corpo e a sua trajetória social e o VI Encontro de Mulheres Negras é um passo no limiar dessa caminhada.

Por: Ariana da Silva - Itacuã-Miri (Pa), Agosto/2010.