quarta-feira, 31 de março de 2010

Sexualidade no cotidiano escolar


O tema da sexualidade é uma reflexão atual e muito relevante, no entanto, em sala de aula, ainda é uma espécie de "tabu" e que remete muito mais o lado "reprodutivo", do "papel da procriação", dos métodos anticoncepcionais, do combate à natalidade, do que propriamente ao exercício de autoconhecimento, do respeito ao outro e da "significação" do que vem a ser "sexo", "sexualidade", "prazer", "HIV", "hetero ou homo", "orientação sexual" (conforme reza o PCN), assim como uma infinidade de conceitos que fazem parte do cenário do que conhecemos por "Sexualidade", de maneira ampla.
Na escola, o que mais chama a atenção é justamente a "reprodução didática" que persiste num tradicionalismo curricular bastante obsoleto e que procura manter um "padrão" que trata a sociedade como celeiro de combate a Doenças Sexualmente Transmissíveis sem discutir a relação de namoro em si ("medidas preventivas"), que distribui preservativos sem necessariamente explicar que a sexualidade é um passo de responsabilidade social que cabe a cada um de nós pensar a respeito, que adota dados estatísticos de queda da natalidade entre jovens como se apenas isso bastasse para conter outros agravos como a exclusão social, a fome, a ausência de médicos e de remédios em Unidades de Saúde para atender a população em busca de informações ou ainda como se os debates em torno da Sexualidade "não precisassem" de discussões mais "modernas" como a bissexualidade, os casais de homossexuais masculinos e femininos, a discriminação sexual, os que não usam preservativo porque não entendem o que realmente é o vírus da AIDS, os que não doam sangue por medo de "engrossar" o sangue ou de ficar "viciado" em doar sangue, enfim, vários aspectos de ausência de informação que estão no cotidiano e que, no entanto, não são analisados nem tampouco colocados em questão. Não podemos generalizar e dizer que "todas" as escolas tem esse perfil, mas muitos de nós mesmos não costumamos parar para pensar a respeito desses problemas... E são problemas de todos. De professores, alunos, alunas, diretores (as), corpo técnico. Tocando em miúdos: nós, sociedade brasileira!
O aprendizado em sala de aula começa quando suscitamos "questões polêmicas" como a Sexualidade: um risinho aqui, uma piadinha preconceituosa ali, uma atitude discriminatória acolá, são todos "métodos" que devem "promulgar" discussões em sala de aula, que devem estar contextualizados com o dia-a-dia dos adolescentes, crianças, jovens, adultos e idosos que frequentam e que buscam informações na Escola, ainda referência de maiores possibilidades sociais, de "fuga" da desigualdade e da busca constante do entendimento de direitos e deveres de tod@s, por assim dizer.
Discutir a sexualidade é discutir a vida (direito fundamental do ser humano garantido por Lei). É discutir o preconceito sexual, a violência contra a orientação sexual "homo", a discriminação, a exclusão de grupos ditos "minoritários" (e que, na verdade, compostos por um sem número de pessoas) e, especialmente, é discutir o amor ao outro, o respeito, o ser tolerante (à La Freire) e, sobretudo, conviver em harmonia com todos os grupos e sujeitos sociais que compõe a grande massa de cidadãos-trabalhadores que foram culturalmente "educados" sob a pecha do machismo, do behaviorismo e de nuances que, ao contrário de combater o ódio social contra o que a sociedade "intitula" de "diferente" ou "anormal", aprofunda ainda mais a reprodução do preconceito e da falta de informação que condiciona o "padrão" coercitivo que culminam nos fatos da discriminação social e da negligência intelectual e política e que na, verdade, precisam de uma "libertação social" que tanto buscamos e que, por vezes, nos acomodamos por motivos diversos.
O exercício do conhecimento começa através da socialização do mesmo.
Devemos por em prática o nosso aprendizado, as nossas teorias, monografias, textos, artigos e discutir, sem medo, todos os aspetos da Sexualidade e assim contribuir para a disseminação do respeito, do amor mútuo e com a diminuição das violências na Escola e também dos espaços que estão fora de seus muros...

Ariana da Silva - GDE/UFPA - 2010.

terça-feira, 30 de março de 2010

Discussões Étnico-Raciais



As relações entre os sujeitos históricos que convivem em sociedade são baseadas em um campo que envolve questões como: a religião (religiosidades), a disputa por um emprego no mercado de trabalho, vagas nas Universidades, desigualdades sociais, desnutrição, déficit na educação, crenças, ritos, valores, discriminações, mestiçagem e demais interações que complementam o status quo dos inúmeros rostos, lutas sociais e aflições da população brasileira.
No que diz respeito à ideologia da democracia racial no Brasil, como expõe Edward Telles em seu livro "Racismo à Brasileira" (2003)¹, as relações étnico-raciais estão baseadas em latentes desigualdades e são reforçadas por um discurso de igualdade praticamente inexistente. Entoando uma crítica à hipótese do "mito" democrático racial, o autor destaca as diferenças de oportunidades entre "brancos" e "negros", sobretudo nas relações econômicas, sociais e de acesso à educação, o que reflete sobremaneira na manutenção de uma segregação "à brasileira", pautada na "igualdade" prevista na Constituição Federal e que ainda é insignificante diante da intolerância racial e cultural da população negra, especialmente entre as mulheres, que sofrem a discriminação de gênero e de "cor", decodificando "lugares" de um abismo social entre ricos e pobres, "brancos" e "pretos".
O racismo é uma realidade brasileira e pode ser visto em qualquer lugar: em abordagens policiais a "suspeitos", em olhares desconfiados a "pessoas de cor" em lojas de "grife", em apelidos e estigmas dentro das escolas a alun@s negr@s, na própria condição de exclusão social em que a maioria da população que habita "favelas", "baixadas" ou "morros" está submetida e subjugada, como também nas ofertas de emprego a pessoas de "boa aparência" - leia-se "brancos" e "bonitos" -, em "brincadeiras" e "piadas" e inúmeras situações "rotineiras" que passam "despercebidas" por terem sido "naturalizadas" e, ainda, reforçam a reprodução de uma história desumana e absolutamente intransigente em nossa sociedade.
Relacionamentos inter-raciais são comuns, mas são vistos com discriminação. Nas escolas, o racismo existe, mas não é problematizado. As famílias brasileiras são mestiças, entretanto, o preconceito de "cor" é algo silencioso, simbólico, que paira numa atmosfera invisível, mas que está lá, em todos os cantos. Além do racismo contra negros, existe a segregação de indígenas pauperizados e descaracterizados em suas culturas, línguas, rituais e dignidade, um desrespeito sem medidas e que, no entanto, viraram "lugar comum" na destruição acelerada de nações e organizações sociais em relação à Sociedade Nacional.
É importante que façamos a discussão dos temas em sala de aula para desconstruir ações discriminatórias e de "separatismos" de raça e cor e enfrentar obstáculos diários para que, enfim, passamos compreender que a raça humana é uma só e ao mesmo tempo, diversa, que todos merecem respeito e oportunidades através da Escola e de políticas públicas de combate a toda forma de opressão social.

¹ Telles, Edward E. Racismo à Brasileira: uma Nova Perspectiva Sociológica. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003.

Texto: Ariana da Silva - Aperfeiçoamento em Gênero e Diversidade na Escola - GDE/UFPA/2010.


segunda-feira, 29 de março de 2010

Dimensão Simbólica da Sexualidade

DIMENSÃO SIMBÓLICA DA SEXUALIDADE




Abaixo o texto "Dimensão Simbólica da Sexualidade" - por Ariana da Silva - GDE/UFPA.

As noções conceituais de "homem" e de "mulher" na sociedade brasileira abrigam o que, a partir da categoria "Gênero", entendemos por "masculino" e "feminino" no entorno da sexualidade, por assim dizer. No entanto, a dimensão simbólica dos termos engloba, a priori, aspectos da vida social que compõem percepções de caráter público e privado em sua totalidade e que, na medida do possível, precisam ser esclarecidos e interpretados de acordo com o contexto social em que estão inseridos.
O caráter privado da sexualidade humana compreende escolhas (com quem devemos nos relacionar sexualmente, sentimentalmente, intimamente, etc.), parcerias de casamentos, namoros ou companheirismo, identidades sexuais da "pessoa" ou do "indivíduo" (para usar termos sociológicos) e o direito à liberdade de expressão garantida por Lei (CF), adentrando no caráter público (da sexualidade e da cidadania), que, entre outros prevê a proteção integral contra qualquer tipo de discriminação de cor, credo, manifestação política e, finalmente, sexual; que ecoa por todos os cantos a necessidade de viver dignamente sem preconceitos e que, aqueles direitos sexuais (como a luta contra a Homofobia) sejam, de fato, reiterados e seguidos pelos aparelhos ideológicos de Estado (sendo Althusseriana) e, entre eles, a Escola.
O estereótipo de "masculinidade" e "feminilidade" que a sociedade impõe a determinados sujeitos "gays" e "lésbicas" como o "homem afeminado" e a "mulher masculinizada" contribui para a reprodução do preconceito e da discriminação de um aspecto que é privado, o "modo de ser de cada um de nós" (que deve, para o "padrão heterossexual" ser "eminentemente homem macho" e "mulher fêmea" em "papéis sociais pré-determinados") como, por exemplo, no jogo de futebol feminino, na celeuma que afirma que: "O "goleiro" não é menina" e, numa atitude estapafúrdia, grupos de pessoas duvidam da identidade "biológica" de uma jogadora que, ao querer exercitar o seu "direito" ao lazer (direito de todo cidadão e de toda cidadã), culmina na marginalização da "pessoa individualizada" em seu caráter privado na humilhação de "ter que provar" que é "mulher", como acontece rotineiramente em escolas, olimpíadas, copas, campeonatos e outros eventos esportivos.
O corpo tanto do homem quanto da mulher possui diversos significados: simbólicos, sociais, culturais, psicológicos, emocionais, etc. e é dotado de desejos, prazeres, valores, sentimentos, identidades sexuais, direitos públicos e privados e, principalmente, engloba dimensões que são construídas ao logo do tempo histórico (que é dinâmico, mutável, pós-moderno) e que, simbolicamente, resguardam para cada ser humano, a possibilidade de um reconhecimento coletivo da liberdade de ir e vir e da convivência social harmônica, do desenvolvimento de habilidades culturais e da compreensão da realidade social que compreende o mundo como diverso, diversidade que deve envolver a Escola e que através de "modelos de conduta" que deixam transparecer "efeitos de verdade" ressignificar histórias pessoais através do olhar reflexivo do combate à violência da discriminação sexual.
A sexualidade é, sem dúvida, uma construção. Construção de valores "modernos", de condutas éticas, de um processo contínuo da percepção de quem somos em condições históricas, culturais e de interrelações humanas específicas, portanto, contextualizadas localmente (como diria Geertz), sendo que o simbolismo da vida sexual - e humana - está coadunado com a conformação familiar, escolar, pessoal, pública, privada, de abstratação da realidade e da concretização de atitudes de combate à discriminação, como atua o Movimento LGBT Brasileiro que luta pelo direito à livre expressão e por Direitos Humanos, assim como da idéia do que vem a ser sexo (prática sexual), o sexo do corpo (gênero e fisiologia), a identidade de gênero (quem eu sou na sociedade), a orientação sexual (que não tem qualquer base "natural", absolutamente biológica) e também, o significado cultural e político de visibilidade dessa construção de sujeitos históricos, logo, sujeitos políticos e comprometidos com a dinâmica social, que deve ser exercitada também, na Escola (assim como em toda a construção da vida cotidiana) que levante a bandeira contra toda forma de dominação ideológica e hegemônica de poder, como diria Foucault em "História da Sexualidade I: A Vontade de Saber":
"Dizendo poder, não quero significar 'o poder', como um conjunto de instituições e aparelhos garantidores da sujeição dos cidadãos em um estado determinado. Também não entendo poder como um modo de sujeição que, por oposição à violência, tenha a forma de regra. Enfim, não o entendo como um sistema geral de dominação exercida por um elemento ou grupo sobre o outro e cujos efeitos, por derivações sucessivas, atravessem o corpo social inteiro. A análise em termos de poder não deve postular, como dados iniciais, a soberania do Estado, a forma da lei ou a unidade global de uma dominação; estas são apenas e, antes de mais nada, suas formas terminais. Parece-me que se deve compreender o poder, primeiro, como a multiplicidade de correlações de forças imanentes ao domínio onde se exercem e constitutivas de sua organização; o jogo que, através de lutas e afrontamentos incessantes as transforma, reforça, inverte; os apoios que tais correlações de força encontram umas nas outras, formando cadeias ou sistemas ou ao contrário, as defasagens e contradições que as isolam entre si; enfim, as estratégias em que se originam e cujo esboço geral ou cristalização institucional toma corpo nos aparelhos estatais, na formulação da lei, nas hegemonias sociais." (FOUCAULT, 1993:88-89).
Desse modo, a construção da sexualidade é diária. Constante. Contra todas as formas de poder, de discriminação, de preconceitos, de (i) legitimidade sexual e de imposições culturais, que devem ser analisadas na Escola de maneira clara, objetiva, madura, rotineira, sem medos ou valores tradicionais para que possamos por em prática todo o conteúdo teórico que adotamos como significante da vida social e, assim, ter alunos e alunas realmente livres de toda forma de discriminação.

domingo, 28 de março de 2010

Amazônia e Diversidade



DIVERSIDADE ÉTNICA

O espaço do Blog Ariana Belém Ambiental abre lugar para discussões a respeito das categorias "Gênero" e "Diversidade" a fim de discutir assuntos relacionados à convivência social entre homens e mulheres de sociedades e culturas diversificadas com a intenção de debater temáticas como Diversidade, Cultura, Etnicidade, Identidade, Gênero, Preconceito, Homofobia, Estigma, entre outros.
Abaixo segue um texto escrito durante o Curso de Aperfeiçoamento em Gênero e Diversidade na Escola, UFPA/2009-2010, que analisa a questão da Diversidade Étnica.

O Brasil é um país com uma diversidade ímpar e que demarca a sua riqueza cultural em todos os sentidos: étnica, racial, tradições regionais e nacionais, folclore, musicalidade, arte, capoeira, culinária, Amazônia, quilombolas, indígenas, caboclos, ribeirinhos, posseiros, sem-terra, trabalhadores rurais, pescadores, urbanização, preservação, desmatamento, fauna, flora, natureza, cidade-grande, vilarejos, morros, favelas, baixadas, elites concentrando poder, desigualdade, esperança em um país melhor, menos injusto...
O cenário da Educação num país de rosto tão diverso ainda caminha em processo de consolidação da tão aclamada e querida "multidiversidade cultural" e que precisa ser colocada em prática, no dia-a-dia em sala de aula, nos livros didáticos, nas variadas mídias e, especialmente, na sensibilização de professores e alunos das Redes Pública e Privada, a afim de desconstruir "valores" racistas e que cotidianamente continua matando jovens negros, pobres e sem acesso à informação, levando milhares de adolescentes à margem da sociedade, que é tão excludente.
A discussão das relações étnico-raciais de combate ao preconceito e a qualquer tipo de discriminação é uma construção diária, constante, ininterrupta e que deve ser abordada. Precisamos falar sobre o negro e as atitudes racistas, sobre o índio e os processos de estigmatização de "indolência" e "tutela" a que são acometidos, sobre a mulher e o salário desigual, sobre trabalhadores sem-terra e a reforma agrária, sobre os heróis nacionais como Zumbi, Antonio Conselheiro, Chico Mendes, Marçal Guarani, Marias, Josés e tantos outros que modificaram o pensamento e as vidas de milhares de brasileiros e que hoje estão "esquecidos" no imaginário popular porque, simplesmente, não se fala neles. O motivo? São pessoas do povo e enquanto povo, devem ser aclamados e exaltados como símbolos da identidade nacional de nossa "brava gente" que resistiu e ainda resiste a todo tipo de exclusão social a que são submetidos pelos entraves do sistema capitalista de produção, mas que, por sua representação social, merecem destaque em discussões acaloradas em sala de aula, principalmente, por sua importância histórica, mesmo que os "donos do poder", como diria Raymundo Faoro, façam questão de colocá-los na memória do esquecimento.
O aprendizado e o arcabouço teórico do curriculo escolar, por assim dizer, deve ser constituído das histórias verdadeiras do povo brasileiro e a tarefa de cada um de nós, educadoras e educadores, é buscar, pesquisar, apreender novas fontes de conhecimento e socializar informações que sejam capazes de suscitar a crítica social, pois o racismo, o preconceito e a discriminação serão colocados em "xeque" se os questionamentos forem levantados e, a partir da Escola, consigamos contribuir para um presente e um futuro menos desigual, logo, mais justo socialmente.

Ariana da Silva - Socióloga - Curso de Aperfeiçoamento em Gênero e Diversidade na Escola - UFPA/2009-2010.