terça-feira, 2 de novembro de 2010

O Processo de Envelhecimento Social


A ONU estipulou de 1975 – 2025 como a Era do Envelhecimento (50 anos). O Brasil ocupará o 6º lugar no contexto mundial em 2025, chegando a aproximadamente 32 milhões de idosos. O segmento idoso é um segmento de estigmatizado no seu cotidiano. Costumamos classificá-los de velho, idoso, geronte, gerontino, velhote, ancião, terceira idade. Estas terminologias são o resultado da sociedade regida sob a lógica do mercado capitalista. Os Idosos uma vez aposentados ou incapazes de trabalhar são considerados improdutivos. Isto coloca o idoso numa espécie de “apartheid social” frente ao mercado sócio-econômico vigente. E obriga os idosos a conviverem com o sofrimento, com a violência e com a discriminação social.
A cidadania fica reduzida à condição de consumidor/produtor.
O Idoso é percebido como alguém não-produtivo, dependente, incapaz, um “peso social”, que necessita de muitos cuidados com a saúde: a velhice está ligada à idéia de uma ameaça inevitável, um processo gradual de diminuição de forças e capacidades.
A uma etapa difícil da vida que traz alterações na qualidade da vida, provocando quebra no status econômico, social e profissional, depressão, isolamento e doenças. Estas representações sociais que fazemos comumente dos idosos são influenciadas pelas práticas institucionais circulantes num determinado contexto sócio-histórico. Interferem nos comportamentos interativos dos idosos e daqueles que com eles convivem, nas modalidades do atendimento e na qualidade de suas vidas.Devemos criar e recriar imagens de um envelhecimento assimilando-o como parte integrante de nossas transformações bio-psicossociais de forma positiva.
Aspectos Bio-Psicossociais da Velhice:
A postura do idoso é um reflexo das relações que estabeleceu no passado e que ainda estabelece. Se alguma etapa do desenvolvimento humano não foi vivida de forma satisfatória, isso se refletirá na próxima etapa da vida, isso fica demonstrado no saudosismo.
Os sentimentos mais freqüentes dos idosos são:

- Medo da solidão, da impotência, da dependência;
- Da degeneração do corpo que a cada minuto aumenta,
- Medo de precisar de outra pessoa para viver e sobreviver,
- Medo de perder a consciência, esquecer as lembranças
- Medo de morrer só e que as pessoas que amam fiquem desamparadas.

Precisamos tomar consciência e ao mesmo tempo ter sensibilidade para perceber que envelhecer é inevitável, faz parte da existência humana, resultado do grande espetáculo de todo desenvolvimento humano e é fundamental viver essa etapa da vida, assim como todas as anteriores, possibilitando ser único no mundo, viver de forma satisfatória e feliz e poder registrar, mesmo que minimamente, sua experiência no mundo, poder completar o percurso: nascer, viver e morrer.

Aspectos biológicos:

Surgem rugas, cabelos brancos, calvície, osteoporose, artrose, hipertensão, perda de memória, cardiopatias; enfim há um declínio da sua força, disposição e aparência.

Aspectos psicológicos:

A motivação tende a diminuir e são necessários maiores estímulos para o idoso empreender uma nova ação. Características como enrijecimento do pensamento, certo grau de regressão, tendência a um certo tipo de reminiscências ou depressão, podem aparecer.

Aspectos Sociais:

Envolve um status político e econômico, que por exemplo, tem como marca a aposentadoria, a perda do papel profissional e de chefe de família tem como função a manutenção e controle da casa, e educação dos filhos.

Envelhecer, às vezes, é sinônimo de construção de um caminho que, no final da vida, fica mais difícil dar continuidade pela consciência da descontinuidade biológica. A velhice é encarada em nossa sociedade apenas negativamente, onde torna-se possível depositar tudo que remete à inutilidade, à dor, à finitude e a morte.

O idoso em outras sociedades:

Nas sociedades tradicionais, o velho representava a sabedoria, a paciência e a transmissão dos valores ancestrais. Era uma pessoa importante para o grupo, pois continha um lugar simbólico, onde era um elemento na vida do jovem. O idoso em determinadas culturas representa continuidade da história: binômio continuidade/memória que são valores almejados pelo grupo social. Numa sociedade indígena o idoso é sinônimo de manutenção e transmissão de conhecimentos. No Japão tem-se um extremo respeito pelos idosos, pois eles representam sabedoria.

Mitos e Verdades sobre o Envelhecimento:
Mito:

A velhice começa aos 60 anos.

Verdade:

A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu que a velhice se inicia aos 60 anos nos países em desenvolvimento, mas nos países desenvolvidos a idade sobe para 65 anos. A velhice NÃO começa em uma idade cronológica, nem ocorre de forma igual para todas as pessoas, é fruto de nossos hábitos e costumes. Nos anos 40 - era considerada velha uma pessoa de pouco mais de 50 anos de idade, e a expectativa de vida da população brasileira era de 45 anos. Hoje essa expectativa subiu para 71 anos, sendo que é maior para as mulheres - 75,2 anos e 67,6 anos para os homens. O envelhecimento é um processo pessoal e difere de pessoa para pessoa, de classe social para classe social e de época para época.

Mito:

O Velho não produz.

Verdade:

O velho é detentor de conhecimento, experiência e visão ampla do mundo, tendo condições de participar no mercado de trabalho, contribuindo com sua experiência e conhecimento acumulados ao longo dos anos. Não é só o jovem que produz e consome, o idoso pode exercer outras atividades produtivas e se tiver recursos, também vai consumir.

Mito:

A velhice é feia.

Verdade:

É evidente que com o decorrer do tempo o ser humano vai perdendo o frescor da juventude e a beleza exterior, tão valorizada em nossa sociedade. A beleza é um conceito efêmero que muda de geração para geração. O belo de hoje é muito diferente do belo de séculos passados. Atualmente, no entanto, valoriza-se, até com certo exagero, a beleza juvenil. A beleza da idade está refletida na sensatez, sabedoria e sobriedade, e também nas rugas e nos cabelos brancos como marcas do tempo.

Mito:

O envelhecimento acarreta perda da memória.

Verdade:

Os efeitos do envelhecimento sobre a memória não são inevitáveis nem irreversíveis. As pessoas possuem capacidade de recordar em qualquer idade, desde que exercitem a memória. O jovem também esquece, também se engana e ainda age muitas vezes de maneira ilógica. 

Mito:

A velhice é uma etapa totalmente negativa.

Verdade:

A maioria dos idosos não tem limitações, nem suas vidas são negativas e dependentes. 
Uma pessoa idosa possui várias experiências, conhecimentos e saberes que um jovem não pode ter, mas este possui a força e a vitalidade que o velho carece. Se a sociedade valorizar unicamente o vigor físico, o idoso fica em desvantagem.
O importante numa sociedade democrática e pluralista é respeitar a condição do idoso, sua experiência e conhecimento da vida, equilibrando com a capacidade de inovação, iniciativa e vitalidade do jovem.  

Mito:

Idoso só gosta de bingo e baile.

Verdade:

O baile traz a possibilidade de relembrar e reviver momentos prazerosos, desenvolver a sociabilidade, as habilidades e talentos, promover a atividade física por meio da dança, estimular a sensualidade, desenvolver o gosto pela música e soltar a imaginação e fantasia. Esta atividade não se restringe apenas aos idosos, ela tem efeitos positivos em qualquer faixa etária. O bingo pode ser um excelente espaço de sociabilidade quando promovido com o objetivo de diversão e integração comunitária.
Quando a atividade se caracteriza como comercial pode levar ao vício, isolamento e perdas materiais, que são aspectos negativos em qualquer faixa etária.

Mito:

Velhice é doença

Verdade:

Há muitos meios de prevenir doenças e preservar a saúde física e mental. Existem doenças que se manifestam na velhice, mas podem ter sido adquiridas na infância e se agravaram ao longo da vida. O envelhecimento com qualidade depende da prevenção, de cuidados e hábitos saudáveis cultivados desde os primeiros anos de vida.  

Mito:

O velho é ranzinza.

Verdade:

A pessoa que possui características como teimosia, rigidez, mau humor, é considerado ranzinza e pode tê-las acentuada na velhice, no entanto, estes comportamentos não são exclusivos da pessoa idosa.

Mito:

O envelhecimento traz impotência sexual.

Verdade:

Hoje os médicos, psicólogos e sexólogos já desmistificaram esse assunto tão importante para a pessoa em todas as etapas da vida. O corpo muda, mas a sexualidade continua, a sensibilidade fica refinada e mais bela. É importante manter os cuidados preventivos em relação as doenças sexualmente transmissíveis, garantindo assim o sexo seguro e reverter estatísticas que apresentam altos índices de AIDS entre os idosos.  

O fato é que o Brasil está "envelhecendo" e precisamos rever conceitos sobre a "velhice", seus mitos e verdades e ordenar valores de respeito com a pessoa idosa em seu processo singular enquanto "pessoa", dentro de uma ótica cidadã e da sua condição de ser humano que merece atenção, carinho e proteção integral do Estado, da família e da sociedade, na qual tanto contribuiu e ainda contribui com trabalho e sabedoria que todo idoso e toda idosa possui.

Aula organizada no Curso "Cuidadores de Idosos" ministrada na Escola Técnica do Sistema Único de Saúde - SUS - ETSUS/Pará (Ariana da Silva).
Fotos: Mestre Verequete e Mestre Laurentino via Google.

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