domingo, 29 de maio de 2011

Seminário Evolução Humana e Nutrição



ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM BIOANTROPOLOGIA
LINHA DE PESQUISA: SOCIOECOLOGIA DA SAÚDE E DA DOENÇA
Mestranda ARIANA K.L.S. da SILVA , Prof. Dr. HILTON P. SILVA

Resumo do seminário:

EVOLUÇÃO HUMANA, ALIMENTAÇÃO & NUTRIÇÃO

O estudo da Evolução Humana busca entender a origem e os processos adaptativos do Homo sapiens, como espécie distinta de outros hominíneos: grandes macacos e seus ancestrais hominóides.
O termo “humano” refere-se ao gênero Homo, que se afastou dos Australopitecos entre 2,3 e 2,4 milhões de anos na África. Os seres humanos possivelmente ramificaram-se de seu ancestral comum com os chimpanzés entre 7 e 5 milhões de anos atrás.
Diversas espécies de Homo evoluíram e hoje estão extintas, elas incluem o Homo erectus/ergaster, que habitou a Ásia/África, e o Homo neanderthalensis, que habitou a Europa.

O que comemos é um aspecto tão importante de nossas vidas que talvez esteja na raiz do que nos fez adotar, há milhões de anos, uma postura bípede e um conjunto de comportamentos culturais tão diversos daqueles observados nos outros primatas. Somos, de fato, o que comemos” (Silva, HP & Reinhard, K, 2007, Ciência Hoje, p. 31).

A coleta de vegetais é inerente às estratégias alimentares... É legítimo postular sua importância... O domínio do fogo oferecerá uma nova gama de recursos potenciais, tornando possível o consumo de plantas que são tóxicas quando cruas, mas comestíveis quando cozidas... O hábito de fazer refeições em comum introduziu a divisão do trabalho no grupo e um complexo nível de organização social” (“História da Alimentação”- Jean-Louis Flandrin e Massimo Montanari- As estratégias alimentares nos tempos pré-históricos- Catherine Perlèsp. 44-45).

A fome instintiva manteve nossos ancestrais vivos em um mundo competitivo que exigia o consumo de grandes quantidades de energia... O tipo glutão pensaria em comida dia e noite. Outro ficaria saciado depois que sua necessidade diária fosse satisfeita... Dos dois, qual teria probabilidade de ser nosso ancestral? (p. 37)
Esse apetite era uma característica que aumentava a capacidade de sobrevivência em nossa programação genética. Hoje é um defeito nessa programação (p. 37).

O que acontece com os animais que gastam energia à toa? Eles morrem... Somos descendentes daqueles seres humanos que foram frugais em suas atividades físicas e carregamos seus genes que procuram conservar energia” (p. 48): "A Culpa É da Genética: Do Sexo ao Dinheiro, Das Drogas à Comida - Dominando nossos instintos primitivos - Terry Burnham e Jay Phelan - Gordura: Favor Não Alimentar os Humanos”.

“Humanos, estranhos primatas. Andamos sobre duas pernas, possuímos cérebros enormes e colonizamos cada canto da Terra. Antropólogos e biólogos procuraram sempre entender como a nossa raça diferenciou-se tão profundamente do modelo primata. Um conjunto de evidências, uma linha em comum: elas são o resultado da seleção natural, atuando para maximizar a qualidade dietética e a eficiência na obtenção de alimentos. Mudanças na oferta de alimentos parecem ter influenciado fortemente nossos ancestrais hominídeos. Assim, em um sentido evolutivo, somos o que comemos” (Leonard, W. 2003. Scientific American Brasil, Jan.)


Outras informações:

http://bioantropologiaufpa.blogspot.com/

http://arianaeducacaooambiental.blogspot.com/

arianabelem@gmail.com

hdasilva@ufpa.br

domingo, 22 de maio de 2011

Palestra Prof. Dr. Mauro Salzano



CONVITE
O Laboratório de Genética do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará (ICB/UFPA) apresentará palestra com o Prof. Dr. Mauro Salzano que é um renomado cientista-geneticista brasileiro. Professor Emérito e Colaborador no Departamento de Genética do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e membro do Núcleo Permanente do Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular.
O tema da palestra é sobre Racismo e Genética na Atualidade.
Convido a tod@s para o debate.


Dia: 25 de Maio de 2011 (quarta-feira).
Local: Laboratório de Genética do Instituto de Ciências Biológicas - Universidade Federal do Pará (ICB/UFPA).
Horário: 10 h.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Encontro Científico-Cultural: “Museu e Memória, Paisagens na História”



Comemoração do Dia Internacional dos Museus

18 a 20 de Maio de 2011

O Conselho Internacional de Museus (ICOM), em comemoração ao dia internacional dos museus, em 18 de maio, propõe anualmente um tema para reflexão da comunidade acadêmica, agentes públicos e, o público em geral, que trabalham direta e indiretamente com os museus e/ou espaços culturais. O tema de 2011 é sobre a importância dos museus para a história dos povos e das sociedades, expresso na temática “Museu e Memória”.
O Encontro científico-cultural localmente se desdobrará sobre a temática “MUSEU E MEMÓRIA, PAISAGENS NA HISTÓRIA”, organizada conjuntamente entre o Curso de Museologia do Instituto de Ciências da Arte/ICA da Universidade Federal do Pará/UFPA, o Sistema Integrado de Museus e Memoriais da Secretaria de Estado da Cultura - SIM/SECULT e o Museu Paraense Emílio Goeldi/MPEG, como parte do convênio de cooperação técnica, científica e cultural celebrado entre as instituições. O objetivo do evento é de pensarmos coletivamente sobre os museus locais gerenciados pela SECULT- PA, com suas coleções e territórios patrimoniais, também como espaços de produção de conhecimento e em interação com a sociedade.

Programação:

Dia: 18 de maio de 2011(quarta-feira)
Local: Auditório do Museu de Arte Sacra – Igreja de Santo Alexandre
Mesa Redonda e debate (9h às 12 h)
Patrimônio, Paisagem e Memória (Grupos de Pesquisa)
 Prof. Dr. Flávio Leonel Abreu da Silveira: (IFCH/PPGA/UFPA), (Antropologia da Paisagem na Amazônia);
 Prof. Dr. Agenor Sarraf: (ICA/PPGArtes/FAV/UFPA), (Para além dos Muros do Museu).
Mediadora: Profª. MSc. Rosangela Britto: (FAV/ICA - Doutoranda no PPGA/IFCH/UFPA).
Almoço (12 às 13h30h)

Mesas-Redondas e debates (14H ÀS 16H)
Docentes do Curso de Museologia e suas pesquisas no Campo Museológico
MESA 1 – Museologia, Comunicação e Representações/ Museu, Museologia e Ciência – (14 às 16h)
 Profª. MSc. Carmen Silva;
 Prof. MSc. Luiz Tadeu da Costa;
 Profª. Priscila de Jesus;
 Profª. MSc. Sue Anne Costa.
Mediadora: Profª. MSc. Renata Maués, (UNAMA/SECULT-PA).
Coffee-break (16h às 18h20)

MESA 2 – Patrimônio, paisagem e Memória/ Educação Patrimonial, Cultura e identidade (16h20 às 18h20)
 Prof. Dr. Agenor Sarraf;
 Profª. Esp. Idanise Hamoy;
 Profª. Luzia Gomes;
 Profª. MSc. Rosangela Britto;
 Profª. MSc. Socorro Lima.
Mediadora: Profª. MSc. Ana Claudia da Cruz Melo (FAV/ICA/UFPA).

Dia: 19 maio de 2011(quinta-feira)
Local: Auditório do Museu de Arte Sacra – Igreja de Santo Alexandre
Mesa Redonda e debate (09h às 12h)
Entre Histórias e Arte: Patrimônio Artístico, Museus de Arte, Pesquisa das Coleções de Artes Visuais
 Prof. Dr. Afonso Medeiros: FAV/ICA/PPGArtes/UFPA (Coordenador PPGArtes);
 Prof. Dr. Edilson Coêlho: (FAV/ICA/UFPA);
 Profª. Drª. Marisa Mokarzel: (Mestrado em Comunicação/UNAMA);
 Profª. MSc. Renata Maués, (UNAMA/SECULT-PA).
Mediador: Prof. MSc. Luiz Tadeu da Costa: (FAV/ICA/UFPA, Coordenador do Curso de Museologia da UFPA).
Almoço (12 às 13h30h)

Mesa redonda e debate (14h às 16h)
O Sistema Integrado dos Museus de Belém (SIM/SECULT) e suas pesquisas de Coleções.
 Maria de Fátima Cruz (Coordenadora da CDP/SIM/SECULT);
 Anselmo do Amaral Paes (Técnico em Gestão Cultural/ Antropólogo/Pesquisador do SIM/SECULT);
 Dayseane Ferraz da Costa (Técnica em Gestão Cultural/ Historiadora/ Pesquisadora do SIM/SECULT).
 Michelle Menezes de Barros (Técnica em Gestão Cultural/ Historiadora/ Pesquisadora do SIM/SECULT);
Mediadora: Profª. MSc. Sue Anne: (FAV/ICA/UFPA).
Coffee-break (16h às 16h30)

Palestra e debate (16h30 às 17h30)
A coruja de Minerva: O Museu Paraense entre o Império e a República, 1866-1907
 Dr. Nelson Sanjad: (Diretor de Comunicação e Extensão do MPEG).
Lançamento de livro (17h30)
Local: Hall do Museu de Arte sacra – Igreja de Santo Alexandre
 “A coruja de Minerva: O Museu Paraense entre o Império e a República, 1866-1907”, do Dr. Nelson Sanjad.

Dia: 20 de maio (sexta-feira)
Local: Auditório do Museu Goeldi/Parque Zoobotânico (Rocinha)
Palestra “Memória e Esquecimento” (9h às 10h)
 Prof. Dr. João de Jesus Paes Loureiro (UFPA)
Mesa Redonda e Debate (10h30 às 12h)
Memória e Esquecimento
 Profª. MSc. Ana Claudia dos Santos da Silva: (Membro do Conselho Gestor do Ponto de Memória da Terra Firme/IBRAM, Educadora do MPEG);
 Profª Drª. Terezinha Resende (Ecomuseu da Amazônia).
Mediadora: Profª. MSc. Socorro Lima: (FAV/ICA/UFPA).
Almoço (12 às 13h30h)

Conferência de encerramento (14H ÀS 18H)
MUSEU E MEMÓRIA, PAISAGENS NA HISTÓRIA
 Profª. Dra. Heloisa Helena Fernandes Gonçalves da Costa: (UFBA).
Mediador: Prof.Dr. Agenor Sarraf: (FAV/PPGArtes/ICA/UFPA).
Dia: 21 de maio (sábado)
Local: Cotijuba/Ecomuseu da Amazônia
Visita técnica e Workshop “Museu, Cidade e Educação” (9h às 17h)
Profª. Dra. Heloisa Helena Fernandes Gonçalves da Costa: (UFBA).

Inscrições e informações:
e-mail: cursodemuseologiaufpa@gmail.com




Texto da organização do evento.
Fotos: Museu da UFPA retirada do site da UFPA; Exposição de Artesanato Kayapó - Museu Emílio Goeldi, por Ariana da Silva.

domingo, 15 de maio de 2011

Uma Carreira em Antropologia Biológica


O QUE É ANTROPOLOGIA?
Antropologia é um campo científico de estudo com várias divisões. A Antropologia Cultural concentra-se em uma compreensão do modo como as pessoas vivem em diferentes sociedades e culturas ao redor do mundo. Os antropólogos culturais, muitas vezes, realizam estudos de povos cujos costumes são bem diferentes dos seus e tentam explicar as razões para os complexos padrões de comportamento social humano. A Arqueologia está preocupada com a compreensão das sociedades que existiram no passado. Arqueólogos escavam os remanescentes de sociedades que existiram muitos milhares de anos atrás ou os restos das sociedades de tempos recentes. A Antropologia Lingüística estuda a natureza e a bases bioculturais das línguas humanas. A Antropologia Biológica ou Bioantropologia é muito diferente dos outros campos, pois estuda a historia evolutiva humana. Esses estudos podem ser realizados nos restos mortais de pessoas do passado, ou sobre as características biológicas de pessoas vivas. Antropólogos biológicos estão interessados na evolução e nos mecanismos adaptativos humanos.
O que é a Antropologia Biológica?
Antropologia Biológica (anteriormente chamada de antropologia física), é uma mistura interessante de estudos sociais e biológicos. As duas principais áreas-conceitos que mantém a antropologia biológica em conjunto, são a evolução e a variação biossocial humanos. Existem muitos tópicos que podem ser estudados no âmbito dessas duas áreas-conceitos. Para entender como os seres humanos evoluíram de formas anteriores de vida, podemos olhar para nossos parentes mais próximos, os outros primatas. Podemos aprender sobre o comportamento dos primatas, estudá-los na natureza, como Jane Goodall fez com chimpanzés na África, ou estudá-los em pequenas colônias em cativeiro. Estes estudos por primatólogos são particularmente importantes porque muitos primatas estão em perigo, e nosso conhecimento de seu comportamento e meio ambiente pode ajudar a eles e nós a sobreviver no futuro.
Podemos usar as técnicas de arqueologia para descobrir os restos mortais de nossos antepassados desde milhões de anos no passado. As descobertas excitantes da paleoantropologia têm empurrado a ancestralidade humana para cerca de 6 milhões de anos. Louis Leakey mostrou como nossos primeiros ancestrais humanos provavelmente caçavam e buscavam se alimentar no continente Africano muito antes de chegar as Américas ou a Austrália. Embora tenhamos aprendido muito sobre nossos antepassados nas últimas décadas, estamos longe de ter uma imagem clara da nossa história evolutiva, e ainda há muito mais a aprender.
Os conhecimentos bioantropológicos reúnem-se em diversas categorias, que se sobrepõem. Novamente, a evolução e variação biossocial estão subjacentes aos temas em estudos que lidam com a nutrição, crescimento infantil, a saúde nas sociedades, a genética de populações humanas, e de adaptação ao ambiente. Por exemplo, podemos tentar compreender como os esquimós têm sobrevivido no frio severo do Artico utilizando adaptações comportamentais bem como adaptações biológicas. Em outro exemplo, a presença de uma estranha doença nos nativos de Nova Guiné levou à descoberta de uma nova classe de organismos infecciosos, e também deu a seu descobridor, o Dr. Carlton Gajdusek, o Prêmio Nobel.
O que os Bioantropólogos fazem?
A maioria dos antropólogos biológicos ensina e faz pesquisas em universidades, faculdades, ONGs e podem também ensinar em escolas de ensino médio. Em diversos países trabalham para o Estado e diversos órgãos do governo, e ainda na iniciativa privada. Em faculdades e universidades, podem trabalhar nos departamentos de antropologia, anatomia, ciências biológicas, biologia humana, ecologia, educação física, genética, nutrição, zoologia, e em departamentos de escolas médicas, e também em serviços combinados de sociologia e antropologia ou ciências sociais. Aqueles que estudam os primatas são muitas vezes dos departamentos de biologia, psicologia ou nas equipes de jardins zoológicos ou institutos de investigação zoológica. Paleontólogos humanos podem trabalhar em departamentos de paleontologia, arqueologia, geologia ou, ou como membros do pessoal dos museus de história natural, como o Smithsonian Institution, em Washington, DC e no Museu Nacional da UFRJ. Além do ensino e da pesquisa, os antropólogos biológicos podem trabalhar na área legal com a antropologia forense (identificação do esqueleto, de DNA ou impressões digitais) para ajudar as autoridades policiais na resolução de crimes. Existem muitas e variadas oportunidades profissionais para os antropólogos biológicos.

POR QUE a Antropologia Biológica É uma PROFISSÃO emocionante e gratificante?
Uma profissão que é estimulante e gratificante pode tornar a vida de um indivíduo uma experiência extremamente enriquecedora. Várias coisas fazem a vida profissional de antropólogos biológicos emocionante. Há o prazer da investigação científica, com intermináveis perguntas a serem respondidas e descobertas a serem feitas. Há a possibilidade de escrever e comunicar os resultados de sua pesquisa para platéias de todos os tipos e de todas as idades. Embora o ensino seja trabalho duro, é muito gratificante, pois os alunos fornecem uma fonte constante de estimulação. Finalmente, a maioria dos antropólogos biológicos faz a pesquisa no que é chamado de "campo", fora do laboratório convencional. Pesquisas de campo podem ter lugar em lugares distantes como países da América Latina, África, Europa e do Pacífico, ou em hospitais e parques zoológicos, por exemplo - em qualquer lugar que um problema biocultural interessante foi identificado. O "campo" é realmente o mundo todo!
Que oportunidades há para estudar Antropologia Biológica?
O Brasil o único programa de formação em bioantropologia (Mestrado e Doutorado) encontra-se na Universidade Federal do Pará, como uma das áreas de concentração do Programa de Pós-Graduação em Antropologia, que é aberto a graduados e mestres de qualquer área do conhecimento.

Texto: Prof. Dr. Hilton Pereira da Silva - Programa de Pós Graduação em Antropologia - PPGA/UFPA
Foto: LEBIOS
Contatos e maiores informações através dos e-mails
arianabelem@gmail.com ou bioantropologiaufpa@gmail.com

sábado, 7 de maio de 2011

O Supremo Tribunal Federal e a União Estável Homossexual


O Supremo Tribunal Federal decidiu, por unanimidade, que a união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo constitui entidade familiar, como união estável (Código Civil, art. 1273). Pergunta-se: (1) Qual o significado desta decisão? (2) Qual a repercussão para outras áreas? (3) O STF legislou, atropelando o Congresso Nacional? (4) Quais as conseqüências práticas da decisão?

(1) O significado é inestimável para a consolidação da democracia e dos direitos fundamentais. Afirmaram-se direitos básicos, a todos reconhecidos, como a liberdade sexual, a proibição de discriminação sexual, a privacidade, a intimidade, o respeito à dignidade da pessoa humana, a diversidade e o pluralismo. A afirmação quanto à existência e às conseqüências destes direitos, especialmente na esfera da sexualidade, onde minorias sexuais são discriminadas, deixa claro o dever de respeito e a dignidade constitucional de que são merecedores homossexuais. Isto ainda que eventuais maiorias, por sondagens de opinião ou por representantes eleitos, tentem impor seus preconceitos.

(2) A repercussão se dá em vários campos. A partir do incontestável dever de respeito às minorias sexuais e da relevância dos direitos sexuais, ficam superadas posturas que tentam justificar discriminações no trabalho, na educação, na saúde e nas mais diversas relações sociais. Fica clara a urgência e a necessidade de medidas antidiscriminatórias, como a criminalização da homofobia. Ganha-se certeza sobre muitos temas, como por exemplo a possibilidade de postulação de adoção conjunta por pessoas do mesmo sexo em união estável. Abrem-se caminhos para levar a igualdade mais a sério, inclusive no direito de família, com o reconhecimento do direito ao casamento, como fez a Corte Constitucional da África do Sul.

(3) O STF não legislou. Ele aplicou a própria Constituição, que já protege a todos de discriminação sexual, especialmente aqueles objeto de preconceito. Outros direitos também foram aplicados, especialmente a liberdade sexual e o respeito à dignidade humana. Daí a conclusão de que excluir as uniões homossexuais é restrição indevida, contra a Constituição, deixando claro que o parágrafo 3º do art. 226 da CF/88 não torna a união estável exclusiva para heterossexuais.

(4) As conseqüências são práticas e efetivas. Todos os juízes brasileiros estão vinculados à decisão, não podendo mais rejeitar a união estável pelo fato de serem pessoas do mesmo sexo. Vários direitos daí decorrem, tais como: inclusão em planos de saúde, previdência, associação como dependente em clubes e sociedades, dever de alimentos em caso de necessidade, divisão de bens adquiridos na constância da união, direito à herança, usufruto dos bens do falecido e acompanhamento de parceiro em instituições hospitalares. Sabedores desta posição judicial, os particulares não mais poderão justificar tratamento prejudicial ao prestarem serviços ao público, muito menos sustentar

Para concluir: o STF cumpriu sua missão constitucional de fazer valer os direitos fundamentais de liberdade, de igualdade, de dignidade humana, de privacidade, de intimidade e de proteção às comunidades familiares, afirmando por dez votos a zero que homossexuais podem constituir união estável.

Texto: Roger Raupp Rios. Juiz Federal, Mestre e Doutor em Direito (UFRGS), Professor do Mestrado em Direitos HUmanos (UniRitter), autor de vários livros sobre o tema ("Em Defesa dos Direitos Sexuais", "A Homossexualidade no Direito", "Direito da Antidiscriminação") e prolator da primeira sentença sobre o tema (Justiça Federal de Porto Alegre, 1996).
Fotos: Ariana da Silva - Passeata do Movimento GLBT do Rio de Janeiro na luta pela união estável e em repúdio à violência doméstica. Praia de Copacanana: Agosto/2010.